segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Metamorfose

E aí no sem mais, ela saiu à caça das bruxas. Precisava delas, de seus trajes negros, dos cabelos arrepiados, daqueles acessórios góticos, de uma vassoura voadora, talvez. E aí no sem mais, ela contornou a boca carmim e acentuou o decote revelando um cânion que desaguava no recôndito do nada. Estéril que era. E aí no sem mais, calçou a sandália meia-pata, meia-vassoura , pisando firme, exalando vulgar sensualidade...que me importa?
A festa era à fantasia. Metamorfose. E assim, no sem mais, saiu fantasiada do que era. Quem saberia?
Pelas ruas noturnas da cidade, vagavam seres vindos de macabros, exóticos países. As bruxas já a acompanhavam com a naturalidade dos que se encontram ao acaso, cumprindo a mesma loucura. Múmias gritavam sua histeria de morte, vampiros arreeganhavam os dentes de riso fácil, super-heróis traçavam planos de ataque para salvar a urbe da seriedade hipócrita que a dominava enquanto bolinavam asseadas enfermeiras. E cantavam canções de arrepio e bebiam derramado álcool e dançavam uma dança desengonçada buscando o soturno endereço que os receberia.
À entrada de um suntuoso salão, foram recebidos pelo conde Drácula, em pessoa. Trêmulo em sua fissura por sangue. Ela, no sem mais, adotou uma postura nobre e olhar de cortesã e solenemente buscou àquele que seria sua vítima primeira, nessa ordem. Ali, no canto, na penumbra contrastante com o traje, estava aquele que também se fantasiara do que, na verdade, era. Pensou. Vestido de anjo, uma loura criatura contemplava a sinistra festa.
Medindo os passos, ensaiando lânguidos gestos, aproximou-se sutilmente. Não foi surpresa receber o sorriso daquele que fora d’água ensaiava naturalidades
Enredando-o, ardilosa que era, levou-o para o centro da festa e engalfinhando em seu corpo viril, ensaiou uma dança tétrica. Movimentos enérgicos, vibrantes, desenhavam luxuriante delírio. O anjo e a bruxa, a negra e o branco, o bem e o mal... bailam sensual suplício, mortal encontro. Esfregaram-se, cheiraram-se, inundaram-se do nada suicida.
E assim, no sem mais, se reconhecem na fantasia que não usaram. Ela, nas alturas de seus versos; ele, no abismo de sua oração.
Todos medonhos olhos fixavam estranho par. Todos ouvidos clarividentes ouviram imponderável música.
Porém, o que era som, silencio se tornou, o que era jogo metamorfoseou-se em realidade...e assim no sem mais, saíram do centro festivo em busca de ermo ritmo.
E foi ali, onde quase não se vê, e foi ali onde se revela o invisível que anjo e bruxa se buscaram entre sinuosas brumas e tontos de tanto ardor encontraram nele, a mulher enclausurada;na bruxa, o estéril homem.

ABELHAS


Dia 19/01/11 às 5/50 hs da tarde, sei exatamente o horário pois pensei já estar na hora de tomar uma gelada, era véspera de feriado (São Sebastião, padroeiro de Cristalina), mas resolvi dar uma olhada na lavoura, no talhão da pista, primeiro. Chegando no local avistei uma jaratataca no caminho, pensei até em tirar umas fotos, quando entrou um enxame de abelhas pela janela do motorista que estava aberta e já vieram para cima com tudo. Eu levei muito susto e apavorei, saí do carro pensando que fosse um enxame passageiro, foi então que a coisa ficou preta, deitei na soja, rolei, dei tapa, pescoção, chute, tudo e só fazia piorar, eram muitas abelhas. Levantei, corri, nada, não sabia para que lado correr, voltei para a camionete, enfiei debaixo, próximo ao motor, pensei que com o calor elas me deixariam, não deu resultado. Corri novamente até que minha respiração começou a falhar, então sentei no chão e deixei as coisas acontecerem, e elas picando a nuca, cabeça, orelhas, rosto. Então pensei "será que vou morrer assim? Me ajuda meu Deus". Aí lembrei que se entrasse na camionete e fechasse a porta limitaria o número de abelhas com as quais teria de "brigar", e assim fiz. Fui para dentro da camionete dê-lhe matar abelhas, até que acabei com elas, mas com os vidros fechados eu ficava sem ar, e não havia como ligar o ar condicionado, pois perdi a chave nas primeiras roladas na soja. Abria a porta e enchia de abelhas novamente, mais luta, mais briga, então resolvi soltar o freio de mão e ir descendo com a camionete, com medo de acidente, pois já estava quase desmaiando, mas assim me afastei delas. Agora eu precisava de socorro, o celular não pegava, tive que subir pela estrada, para dar sinal, novamente as abelhas me pegaram, corri de novo para o carro, então resolvi dar a volta pela soja, quase desmaiando, a boca enchia de saliva e eu não conseguia engolir direito, um cansaço fora do normal. Não sei quanto tempo andei, sei que andei bastante, até que consegui ligar para o Milton e pedir por socorro.

Vi o cão de zorba!

Peguei um nojo de abelha, coisa medonha!

A jaratataca faz a bagunça e eu pago o pato.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Flor da minha vida



Ferreiras,
não sei escrever poesia, então aproveito duas músicas, uma do Nando Reis outra do Humbero Gessinger, para homenagear minha Princesa. Confesso que só entendi as duas músicas, especialmente Espatodea, depois que a Isa nasceu.

Parabólica

Espatódea

Esse é outro da Zoé que achei muito legal.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

E nasce um sambinha!

Aflita, Maria indaga: João,
cadê o pão?
Num átimo olhos ao cesto:
Vazio! Um crime!
Nem uma migalha
incrustada na trama de vime.
Continua Maria: João,
e o feijão?
Nem um grão.
E o arroz?
Se vê depois.
E a farinha?
Virgem, que mulherzinha!
Das mais exigentes!
Melhor um traçado no Buraco Quente...
E se por lá estiver o Rato
Uns goles, na palavra um trato,
e nasce um sambinha.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Receita de Ano Novo

RECEITA DE ANO NOVO
(Carlos Drummondde Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Nossos desejos de saude, paz e alegrias em 2011!
Dado, Lu e Isa
Bjos!