segunda-feira, 30 de abril de 2012

Para Lilia

Meu peito
borbulha
farpas
agulha

Mina `dágua
nascente
riacho
crescente

Meu leito
solidão
não tenho mais
você no colchão

Água parada
lagoa
sua falta
magoa

Fumaça
neblina
o sofrimento
ensina

Vida -vida
porque me prendes
na tua teia
me solte
deixe que eu mesmo
meu livro leia

Na Água Limpa

Parecia um sabiá cantor
Mais como
Ele estava mudo a alguns anos
Então um sussurro
Volta a ser feliz
Estou livre
Posso cavalgar novamente
agora no lombo da brisa

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Blogueiro de Férias









O blogueiro estará de férias nos próximos vinte dias... Europa - Portugal, Espanha e Italia - o aguarda!

Hora de os correspondentes de Londrina, Sao Paulo, BH e Cristalina usarem e abusarem do espaco... Os erros nao sao devidos as tensao-pre-ferias, eh que o teclado deu pau.

Beijos!!!!


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sua voz

E então naquele dia ouvi sua voz...já ouvira antes, tantas vezes ouvida.E só agora escutara eu sua voz. E ela soara tão cá dentro de mim ... trouxera a amplidão de seu mundo, gritara a alma não liberta , gemera a solidão ainda poesia,blasfemara a frustração do poema não vindo.

E então naquele dia eu ouvi sua voz...já ouvira tantas vezes .E nunca a escutara tão bela...porque assim tão desprevenido de si mesmo, tão vazio da roupa sempre usada...sua voz ficou nua...e nua me seduziu . Orpheu de estranha melodia, encantatória poesia...me traz outra vez esse mesmo som...som de raiz , de fundo de rio, de terceira margem...Euridice, resgatada da morte!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Avaliando



Quem mais do que dá pede,
fede,
não merece o que recebe.

Primeiro se entregue.

Depois cobre...

Mas não se dobre.

Não, não, nunca se curve à tiranos,
e nem nunca jamais se violente,
e nem nunca jamais contra a si atente.
Que rolem os anos...

Não, não há
violencia maior do que a si violentar.

Não sejas escravo de seus objetivos,
tão pouco de seus ideais,
nem um nem outro vale mais
do que o regozijo
de você
de voce mesmo se orgulhar.


***
Quando Millor morreu, ouvi seu filho dizer numa entrevista que perdia seu melhor interlocutor. Assim também me senti quando um outro Milton – o meu Milton – se foi de suas terras para plagas imensamente distantes, desconhecidas e tão estranhas para nós, meros viventes. E hoje relendo G. Rosa, lembrei-me do tanto que nos deliciamos lendo esse conto.


Desenredo

João Guimarães Rosa

Do narrador seus para ouvintes:


– Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. Tinha o para não ser célebre. Como elas quem pode, porém? Foi Adão dormir e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.

Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada. Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor. Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tangida a vela e vento. Mas tendo tudo de ser secreto, claro, coberto de sete capas.

Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local, conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.

Não se via quando e como se viam. Jó Joaquim, além disso, existindo só retraído, minuciosamente. Esperar é reconhecer-se incompleto. Dependiam eles de enorme milagre. O inebriado engano.

Até que -deu-se o desmastreio. O trágico não vem a conta-gotas. Apanhara o marido a mulher: com outro, um terceiro... Sem mais cá nem mais lá, mediante revólver, assustou-a e matou-o. Diz-se, também, que a ferira, leviano modo.

Jó Joaquim, derrubadamente surpreso, no absurdo desistia de crer, e foi para o decúbito dorsal, por dores, frios, calores, quiçá lágrimas, devolvido ao barro, entre o inefável e o infando. Imaginara-a jamais a ter o pé em três estribos; chegou a maldizer de seus próprios e gratos abusufrutos. Reteve-se de vê-la. Proibia-se de ser pseudo personagem, em lance de tão vermelha e preta amplitude.

Ela -longe- sempre ou ao máximo mais formosa, já sarada e sã. Ele exercitava-se a agüentar-se, nas defeituosas emoções.

Enquanto, ora, as coisas amaduravam. Todo fim é impossível? Azarado fugitivo, e como à Providência praz, o marido faleceu, afogado ou de tifo. O tempo é engenhoso.

Soube-o logo Jó Joaquim, em seu franciscanato, dolorido mas já medicado. Vai, pois, com a amada se encontrou -ela sutil como uma colher de chá, grude de engodos, o firme fascínio. Nela acreditou, num abrir e não fechar de ouvidos. Daí, de repente, casaram-se. Alegres, sim, para feliz escândalo popular, por que forma fosse.

Mas.

Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios.

Da vez, Jó Joaquim foi quem a deparou, em péssima hora: traído e traidora. De amor não a matou, que não era para truz de tigre ou leão. Expulsou-a apenas, apostrofando-se, como inédito poeta e homem. E viajou a mulher, a desconhecido destino.


Tudo aplaudiu e reprovou o povo, repartido. Pelo fato, Jó Joaquim sentiu-se histórico, quase criminoso, reincidente. Triste, pois que tão calado. Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas brancas. Mas, no frágio da barca, de novo respeitado, quieto. Vá-se a camisa, que não o dela dentro. Era o seu um amor meditado, a prova de remorsos. Dedicou-se a endireitar-se.


Mais.

No decorrer e comenos, Jó Joaquim entrou sensível a aplicar-se, a progressivo, jeitoso afã. A bonança nada tem a ver com a tempestade. Crível? Sábio sempre foi Ulisses, que começou por se fazer de louco. Desejava ele, Jó Joaquim, a felicidade -idéia inata. Entregou-se a remir, redimir a mulher, à conte inteira. Incrível? É de notar que o ar vem do ar. De sofrer e amar, a gente não se desafaz. Ele queria os arquétipos, platonizava. Ela era um aroma.

Nunca tivera ela amantes! Não um. Não dois. Disse-se e dizia isso Jó Joaquim. Reportava a lenda a embustes, falsas lérias escabrosas. Cumpria-lhe descaluniá-la, obrigava-se por tudo. Trouxe à boca-de-cena do mundo, de caso raso, o que fora tão claro como água suja. Demonstrando-o, amatemático, contrário ao público pensamento e à lógica, desde que Aristóteles a fundou. O que não era tão fácil como fritar almôndegas. Sem malícia, com paciência, sem insistência, principalmente.

O ponto está em que o soube, de tal arte: por antipesquisas, acronologia miúda, conversinhas escudadas, remendados testemunhos. Jó Joaquim, genial, operava o passado -plástico e contraditório rascunho. Criava nova, transformada realidade, mais alta. Mais certa?

Celebrava-a, ufanático, tendo-a por justa e averiguada, com convicção manifesta. Haja o absoluto amar -e qualquer causa se irrefuta.

Pois produziu efeito. Surtiu bem. Sumiram-se os pontos das reticências, o tempo secou o assunto. Total o transato desmanchava-se, a anterior evidência e seu nevoeiro. O real e válido, na árvore, é a reta que vai para cima. Todos já acreditavam. Jó Joaquim primeiro que todos.

Mesmo a mulher, até, por fim. Chegou-lhe lá a notícia, onde se achava, em ignota, defendida, perfeita distância. Soube-se nua e pura. Veio sem culpa. Voltou, com dengos e fofos de bandeira ao vento.

Três vezes passa perto da gente a felicidade. Jó Joaquim e Vilíria retomaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de sua útil vida.

E pôs-se a fábula em ata.




Quando Millor morreu, ouvi seu filho dizer,numa entrevista, que perdia seu melhor interlocutor. Assim também sentira eu quando outro Milton, o meu o, se foi para plagas tão estranhas aos viventes. E hoje relendo G.Rosa,lembrei-me do tanto que nos deliciamos lendo esse conto.
Desenredo
João Guimarães Rosa

Do narrador seus ouvintes:
– Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. Tinha o para não ser célebre. Como elas quem pode, porém? Foi Adão dormir e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.

Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada. Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor. Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tangida a vela e vento. Mas tendo tudo de ser secreto, claro, coberto de sete capas.
Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local, conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.
Não se via quando e como se viam. Jó Joaquim, além disso, existindo só retraído, minuciosamente. Esperar é reconhecer-se incompleto. Dependiam eles de enorme milagre. O inebriado engano.
Até que -deu-se o desmastreio. O trágico não vem a conta-gotas. Apanhara o marido a mulher: com outro, um terceiro... Sem mais cá nem mais lá, mediante revólver, assustou-a e matou-o. Diz-se, também, que a ferira, leviano modo.
Jó Joaquim, derrubadamente surpreso, no absurdo desistia de crer, e foi para o decúbito dorsal, por dores, frios, calores, quiçá lágrimas, devolvido ao barro, entre o inefável e o infando. Imaginara-a jamais a ter o pé em três estribos; chegou a maldizer de seus próprios e gratos abusufrutos. Reteve-se de vê-la. Proibia-se de ser pseudo personagem, em lance de tão vermelha e preta amplitude.
Ela -longe- sempre ou ao máximo mais formosa, já sarada e sã. Ele exercitava-se a agüentar-se, nas defeituosas emoções.
Enquanto, ora, as coisas amaduravam. Todo fim é impossível? Azarado fugitivo, e como à Providência praz, o marido faleceu, afogado ou de tifo. O tempo é engenhoso.
Soube-o logo Jó Joaquim, em seu franciscanato, dolorido mas já medicado. Vai, pois, com a amada se encontrou -ela sutil como uma colher de chá, grude de engodos, o firme fascínio. Nela acreditou, num abrir e não fechar de ouvidos. Daí, de repente, casaram-se. Alegres, sim, para feliz escândalo popular, por que forma fosse.
Mas.
Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios.
Da vez, Jó Joaquim foi quem a deparou, em péssima hora: traído e traidora. De amor não a matou, que não era para truz de tigre ou leão. Expulsou-a apenas, apostrofando-se, como inédito poeta e homem. E viajou a mulher, a desconhecido destino.
Tudo aplaudiu e reprovou o povo, repartido. Pelo fato, Jó Joaquim sentiu-se histórico, quase criminoso, reincidente. Triste, pois que tão calado. Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas brancas. Mas, no frágio da barca, de novo respeitado, quieto. Vá-se a camisa, que não o dela dentro. Era o seu um amor meditado, a prova de remorsos. Dedicou-se a endireitar-se.
Mais.
No decorrer e comenos, Jó Joaquim entrou sensível a aplicar-se, a progressivo, jeitoso afã. A bonança nada tem a ver com a tempestade. Crível? Sábio sempre foi Ulisses, que começou por se fazer de louco. Desejava ele, Jó Joaquim, a felicidade -idéia inata. Entregou-se a remir, redimir a mulher, à conte inteira. Incrível? É de notar que o ar vem do ar. De sofrer e amar, a gente não se desafaz. Ele queria os arquétipos, platonizava. Ela era um aroma.
Nunca tivera ela amantes! Não um. Não dois. Disse-se e dizia isso Jó Joaquim. Reportava a lenda a embustes, falsas lérias escabrosas. Cumpria-lhe descaluniá-la, obrigava-se por tudo. Trouxe à boca-de-cena do mundo, de caso raso, o que fora tão claro como água suja. Demonstrando-o, amatemático, contrário ao público pensamento e à lógica, desde que Aristóteles a fundou. O que não era tão fácil como fritar almôndegas. Sem malícia, com paciência, sem insistência, principalmente.
O ponto está em que o soube, de tal arte: por antipesquisas, acronologia miúda, conversinhas escudadas, remendados testemunhos. Jó Joaquim, genial, operava o passado -plástico e contraditório rascunho. Criava nova, transformada realidade, mais alta. Mais certa?
Celebrava-a, ufanático, tendo-a por justa e averiguada, com convicção manifesta. Haja o absoluto amar -e qualquer causa se irrefuta.
Pois produziu efeito. Surtiu bem. Sumiram-se os pontos das reticências, o tempo secou o assunto. Total o transato desmanchava-se, a anterior evidência e seu nevoeiro. O real e válido, na árvore, é a reta que vai para cima. Todos já acreditavam. Jó Joaquim primeiro que todos.

Mesmo a mulher, até, por fim. Chegou-lhe lá a notícia, onde se achava, em ignota, defendida, perfeita distância. Soube-se nua e pura. Veio sem culpa. Voltou, com dengos e fofos de bandeira ao vento.
Três vezes passa perto da gente a felicidade. Jó Joaquim e Vilíria retomaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de sua útil vida.
E pôs-se a fábula em ata.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Meus Versos



Gosto mais de meus versos quando
saem do nada, desarrumados,
livres e leves, tropeçando
para tudo quanto é lado.

Gosto assim:
Quando eu gosto mais deles
do que eles gostam de mim!


***

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ou seja, seja!

(Fernanda Gaona)

Prepare um belo discurso. Gaste suas melhores palavras. Utilize todos os seus argumentos. Eu não consigo ouvir o que você diz.

Mais do que na força das palavras, eu acredito no poder das atitudes. Na grandeza dos gestos. Nas sutilezas das ações. Guarde seus dizeres para utilizá-los depois que fizer acontecer. Eles serão apenas um complemento.

Haja o que houver, aja.

Palavras quando não andam sincronizadas com nossos pés, não chegam a lugar algum. Não dizem absolutamente nada.

É na coerência das ações que a gente se encontra e o outro nos reconhece.

Ninguém pode viver preso em um discurso.

Ou seja,

Seja!


***

sábado, 7 de abril de 2012

Minha Pascoa (2012)

Você já chorou sozinho por ningém o abraçar? Eu já.
Já deu chocolates para  quem  não tem nada a ver? Eu já.
Você ja chorou pelo que  escreve agora? Eu já.
E choro.
Porque amo e estou tao só.
Deus do céu, há que ser foda!!!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Mahatma Gandhi


Indagado acerca do que levaria o ser humano a auto destruição, Mahatma Gandhi assim respondeu:


"A Política sem Princípios, o Prazer sem Responsabilidade, a Riqueza sem Trabalho, a Sabedoria sem Carácter, os Negócios sem Moral, a Ciência sem Humanidade e a Oração sem Caridade.".


Concordo... Como não?


***

Prova Oral


Indagas-me acerca da felicidade,
a resposta a tenho na ponta da língua,
para que a flor não feneça a míngua,
para que não mingue o desejo por inutilidade.

Separar pétalas húmidas de orvalho,
perscrutar doce vão com intensa brandura,
sugar o mel como o faz, com seu trabalho,
a abelha, extraindo da flor toda doçura.

Interrogas-me acerca dos odores e do gozo,
na ponta da língua, no tempo exato,  os trago,
fantasias, lisérgicos, indomados pássaros de fogo
emulando um paraíso etéreo em tenros afagos.

Perguntas-me acerca da felicidade,
perceba que nela, neste instante, naufragas
tecendo com estrelas etéreas divindades,
que pouco a pouco hão de extinguir tuas brasas.


***

Para Tarlei



Pois se é certo
que o incerto
campeou, menino,
teu destino,
e a má sorte
fuçou teu caminho,
tentando borrar o norte
de tu, passarinho,
Mais certo é agora,
que homem como tu não tomba,
frente a gracejos fora de hora.
Imagine, ora bolas,
se nem o derrubou uma bomba!

***