quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Carlos Drumond de Andrade: "Os ombros suportam o mundo"


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
 
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
 
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
 
***
           

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Mario Quintana: "Do amoroso esquecimento".




Eu agora, – que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

***

Mário Quintana: "Nós os Estelares".



Esses que vivem religiosamente se embasbacando ante o espetáculo das inatingíveis estrelas - nunca lhes terá ocorrido acaso que também fazem parte da Via-Láctea?


***

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Mestiça flor

Cabocla
mestiça flor
cruza não desejada
diferente a sua cor
bonita e invejada

Cabocla
bastarda doçura
fruto hibrido
a ser escondido
te falta brancura
sobra em ti candura

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Tudo na vida
passa
Tudo na vida
chega
Passa a dor
passa a tristeza
chega a morte
chega a beleza

Tudo na vida
passa
Tudo na vida
chega
Passa a fala
passa a certeza
chega o silêncio
chega a nobreza