Como é que se faz uma oração a quem
não se conhece,
ou a quem não se conheceu,
ou a quem não se conhecerá?
Como é que se faz uma prece
a alguém cujo nome já não se lembra,
e que morreu há muito tempo,
ou apenas recentemente falecido,
ou mesmo entre aqueles que o presente
ainda habitam?
Bastaria imaginar seu aspecto,
desenhar seu rosto,
esse esboço sombreado que a mente senciente
tenta recriar?
Bastaria desenvolver a cena memorialística
em que se afigura tal destinatário
das boas e religiosas emanações?
Mas e se pensasse então num rosto
indistinto,
sem cor e sem traço:
o rosto utópico de toda humanidade
mesclada num rosto só:
de todos os que pisaram esse fértil
e precário solo:
desse primeiro dentre os homens:
estaria assim rezando a todos Eus?
Estaria assim suplicando diretamente a Ele-que-somos-nós?
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
MEUS OUTROS
Agora estou aqui.
Aqui e somente aqui.
Não estou lá.
Nem mesmo ali.
Aqui e somente aqui.
Não estou lá.
Nem mesmo ali.
Lá e ali já não serei eu a estar.
Serão então outros de mim.
De modo que o lá e o ali não me devem preocupar.
Serão então outros de mim.
De modo que o lá e o ali não me devem preocupar.
Deles se ocuparão devidamente,
se o seu tempo chegar,
e se chegarem a sê-los,
estes meus outros.
se o seu tempo chegar,
e se chegarem a sê-los,
estes meus outros.
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