Como é que se faz uma oração a quem
não se conhece,
ou a quem não se conheceu,
ou a quem não se conhecerá?
Como é que se faz uma prece
a alguém cujo nome já não se lembra,
e que morreu há muito tempo,
ou apenas recentemente falecido,
ou mesmo entre aqueles que o presente
ainda habitam?
Bastaria imaginar seu aspecto,
desenhar seu rosto,
esse esboço sombreado que a mente senciente
tenta recriar?
Bastaria desenvolver a cena memorialística
em que se afigura tal destinatário
das boas e religiosas emanações?
Mas e se pensasse então num rosto
indistinto,
sem cor e sem traço:
o rosto utópico de toda humanidade
mesclada num rosto só:
de todos os que pisaram esse fértil
e precário solo:
desse primeiro dentre os homens:
estaria assim rezando a todos Eus?
Estaria assim suplicando diretamente a Ele-que-somos-nós?