segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Z’EUS

Como é que se faz uma oração a quem não se conhece,
ou a quem não se conheceu,
ou a quem não se conhecerá?

Como é que se faz uma prece
a alguém cujo nome já não se lembra,
e que morreu há muito tempo,
ou apenas recentemente falecido,
ou mesmo entre aqueles que o presente ainda habitam?

Bastaria imaginar seu aspecto,
desenhar seu rosto,
esse esboço sombreado que a mente senciente tenta recriar?

Bastaria desenvolver a cena memorialística
em que se afigura tal destinatário das boas e religiosas emanações?

Mas e se pensasse então num rosto indistinto,
sem cor e sem traço:
o rosto utópico de toda humanidade mesclada num rosto só:
de todos os que pisaram esse fértil e precário solo:
desse primeiro dentre os homens:
estaria assim rezando a todos Eus?

Estaria assim suplicando diretamente a Ele-que-somos-nós?