Thomas olhava a boa senhora com
grande atenção e inexpugnável respeito.
- Reze pr’o seu avô, mininu. E reze pr’o Gilsu também, que tá acidentado. E se quiser rezar por algum pedido
seu mesmo, no particular, ou por mais alguém pode também. Só não pode rezar pra bicho ou pra
coisa...
Thomas se assustou com tal
desfecho improvável; e sobressaltado, cheio de sincera curiosidade, fruto das primeiras
filosofias de uma mente em tenra formação, perguntou:
- E pra Deus, nhá Nira?
- Hãein, mininu?
- Pra Deus? Quem reza?
- Hãein, mininu?
- Pode rezar pra Deus, nhá Nira?
- Há! Mininu! Há! Mininu engraçado...
– e a velha agregada, sorrindo e mostrando com desapego a bocarra desdentada, continuou varrendo a cozinha, saindo pela porta que dava ao amplo pátio avarandado da
fazenda.
Àquela noite, Thomas ficou insone,
ouvindo os grilos e os sapos dos matos da roça, pisando e repisando o assunto.
Cismando muito, considerou o quão angustiante não seria tamanha pressão sobre uma
mesma pessoa, e o quão trabalhoso não seria ter tantas paixões e ambições e tragédias por remediar, e o quão terrível não seria ter tantos pedidos acumulados e simultâneos e infinitos. Não teria Ele um único instante de tranquilidade?
Profundamente comovido pelo árduo trabalho de Deus (mais difícil do que o de qualquer outra pessoa que já existiu ou que um dia existirá!), Thomas decidiu que seria somente a Deus por quem doravante rezaria.
- Meu bom Deus, que o senhor tenha uma boa noite
de sono depois de mais um dia tão cansativo...
Profundamente comovido pelo árduo trabalho de Deus (mais difícil do que o de qualquer outra pessoa que já existiu ou que um dia existirá!), Thomas decidiu que seria somente a Deus por quem doravante rezaria.