Não sei se nosso pai foi um homem bonito – talvez não para os padrões de beleza atualmente estabelecidos. O que sei é que mamãe se mordia de ciúmes dele e que ele não regateava gentilezas e charme para com as mulheres, bonitas ou não (especialmente, é claro, para com as mais belas), que por uma razão ou outra haviam decidido nos visitar em Paulo Freitas e mulheres, todos sabemos, são sempre iguais... Assim, não era incomum constatar, para a exasperação de mamãe, uma ou outra (ou várias... ou todas) se derretendo ante o seu cavalheirismo.
O fato inegável é que ele tinha um jeito todo especial no trato com o sexo oposto.
Não que isso significasse a intenção de conquista... Não, não se tratava de disto. Apenas era de sua índole: Um galanteador, um gentleman... Mas, justiça seja feita, era para mamãe que ele dedicava o melhor de si.
Eu, lá pelos meus dezesseis ou dezessete anos de idade, admirava aqueles seus atributos e me esforçava, sem muito sucesso, para me apresentar equivalentemente perante minhas amiguinhas e, para tanto, ficava atento à sua doutrina e foi assim que descobri o tal de “um toque de desleixo”:
Foi quando me aprontava para um baile “julino” do Colégio Estadual Dr. João Batista Hermeto. Ajeitei-me: Brilhantina nos cabelos, calça quadriculada “boca sino”, camisa verde claro e, sabendo que para ser “o bom” só me faltava alguma gaita e um casaco marrom, que eventualmente eu tomava emprestado com ele e que eu acreditava “me dar sorte”...
Quanto à gaita, provavelmente ele me deu tudo (e certamente não era muito) o que tinha no bolso. O casaco me cedeu com muita boa vontade, mas o melhor foi: Enquanto me ajudava a acertar as golas (casaco marrom x camisa verde claro), ele, desalinhando um pouco meu topete, abrindo o colarinho e afrouxando a camisa de dentro calça, me segredou:
- Homem, para ficar bem tem que estar “nos estrinques”, mas com leve toque de desleixo.
Creio acabei levando a sério demais sua recomendação, pois passada a fase de “bom menino” – se é que realmente o fui algum dia – o “leve toque de desleixo” foi adotado como “desleixo integral”, e barba por fazer, cabelos desgrenhados, roupas enjambradas, no mais fiel estilo hippie, foram incorporados, por um longo tempo, ao meu visual.
Gostoso poder saber um pouco mais de papai.Acho que ele conseguiu deixar um rastro bem marcado na vida de quem teve a felicidade de conviver um pouco com ele.
ResponderExcluirTarlei