segunda-feira, 31 de maio de 2010

sábado, 29 de maio de 2010

Cravo e Ferradura

A vida é dura,
uma no cravo, outra na ferradura,
papai já me dizia:
Caia no eito,
para tudo tem jeito,
não há mal que perdure,
não há dor que não se cure,
não há paixão que dure.

A vida é dura,
uma no cravo, outra na ferradura,
papai já me dizia:
Tome seu jeito,
seja homem direito,
não moleste, não minta,
se é forte a cinta,
é quase nada,
pior a alma lanhada.

A vida é dura,
uma no cravo outra na ferradura,
papai já me dizia:
Nunca se acovarde,
nem diante do sim, nem diante do não,
se por isso a retina arde,
antes ela do que o coração.

A vida é dura,
uma no cravo, outra na ferradura,
papai já me dizia:
Caia no eito,
tome seu jeito,
seja homem direito,
domine o sim e o não.

Dedinho de Prosa


Se achegue,
cabe um dedinho de prosa,
bem ali
tem um bem-te-vi,
acolá uma rosa,
(tão bela!)
e atravessa a janela
(que danado!)
um cheirinho gostoso de café recém coado.

Se achegue,
minha linda, que a tarde se espreguiça,
com o cheiro e o jeito das delícias
que eu tramo para você.


Então,
de fato, era eu.
Estrelas despencavam,
a lua girava,
a rua se desalinhava
e era eu,
e eu estava quase só.

Passou por mim um cão,
depois uma ratazana,
e mais tarde um adeus.
- nenhum dos três me mordeu,
mas também nenhum dos três
me lambeu.

E, então só,
só não fiquei tão só
porque tinha a solidão.

sábado, 22 de maio de 2010

Passeio

Era eu
e ele
a cavalo
desta feita
eu não estava
na garupa
orgulhoso
eu ia acompanhando
no meu próprio cavalo
Ele me dizia
o entardecer
é uma beleza tristonha
diferente do amanhecer
que é alegria
Não sei se é porque
este dia era de tarde
Adoro o entardecer

Fluir

Basta pensar em ti
e pensar e sentir
e  pensar sem ti.

Fluir

Basta rir e rir
e ser feliz e seguir
daqui para ali.

Aluar

Basta ser ar
e água e ar
e mar.

Voar.

Basta ser você
sem tanto querer
sem tanto auê

Amar.

Terra, fogo, água e ar...

Recato

É uma questão de recato:
Não lambo o prato,
mas lambo a buceta...
E não se meta!

É uma questão de ética:
Preocupa-me a estética,
mas não a beleza,
a busca e não a certeza.

É uma questão de trato:
Não amo o fato,
mas o que há por traz
(não me force a palavra paz)

teria uma rima,
mas que pobre!

Desepero (n')

Ficou grudado na pétala um beijo,
um lábio leporino feito em desejo
e a um só tempo, adeus.
Rósea e suave marcou a ferro
a agonia, entre gemidos e berros
e fez, o que fez, por Deus.

Feriu, porque ferir era preciso,
para destruir espinho, sorriso
e a um só tempo, medo.
Três coelhos, um cajado.
Mas foi, ou não, até a lua
e a lambeu enquanto nua
e enterrou, até onde pode, seu dardo.

E, então, nada restou

Siboney

(tempos de fartura e boleros)

 Na ponta da mesa a pele morena, a roupa da lida, as mãos calejadas e limpas, a autoridade, a conjunção dos elementos e o poder do suor. À esquerda a beleza, a conciliação, a arte, a habilidade política e o poder do amor. À direita, em ordem, por idade, a começar por mim, as crias dessa união, e os amigos, satélites usualmente deslumbrados e naturalmente atraídos pela luz daquela harmonia.

Nas panelas: arroz, feijão, couve refogada, suã... Tudo da horta e pelas mãos de Sá Eurides preparados.

O prato com leite e angu... Um ritual: A pilha de pratos esmaldos e fundos, a lata de alumínio e ele servindo, da esquerda para a direita, cada um passando para o próximo, com absoluta dedicação. O tempero de tudo isto – por ridículo que possa parecer – não era o amor, mas o respeito.

Nunca foi fácil, mas houve uma época de mil sacas de café e então ele se deu alguns luxos: Uma semana de férias em Poços de Caldas, uma sela nova e, pioneiro que era, para ela, uma eletrola (nem procurem no dicionário, pois não existe); Um lindíssimo móvel em mogno aconchegando uma parafernália de fios e válvulas que resultavam, em suma, em uma vitrola estereofônica, duas caixas de som, uma de cada extremidade do móvel, e, enfim, som.

Por traz dos eucaliptos o sol havia tingido as nuvens sobre a Serra Negra, a janta recolhida... Então, na sala do meio, a eletrola em 78 RPM, tocando os boleros extraídos dos discos de vinil.

Preferências por preferências a minha infanto/adolescência optava por “aquellos ojos vierdes”, mas, na verdade, olhares de cumplicidade eram trocados entre eles quando Javier Solis cantava Siboney.

Soube muito depois que Siboney, por razão por mim desconhecida – e carece alguma? – era a “música deles”.

A internet me ajuda e é esta a letra de Siboney:


Siboney yo te quiero
yo me muero
por tu amor.
Siboney, en tu boca
la miel puso su dulzor.
 
Ven aquí que te quiero
 y que todo tesoro
 eres tú para mí.
Siboney al arrullo de tu alma
pienso en ti.

Siboney de mi sueño
si no oyes la queja de mi voz,
Siboney si no vienes me moriré de amor.
Siboney de mi sueño te espero
con ansia en mi caney.

Siboney si no vienes me moriré de amor.
Oye el eco de mi canto de cristal
no se pierde por el rudo manigual.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Comentários

Meninos,

Meu impulso inicial foi comentar cada um dos "inspirados" post da Cocada, Naira e Thiago. Porém, refleti um pouco mais e decidi emitir este "post comentário":

Não tenho a menor dúvida de que ao longo destes longos maio e junho estaremos todos nos sentindo um tanto desamparados, carentes, desprotegidos e, até mesmo, abandonados (o homem sem exemplo é homem sem caminho). Natural. Como poderia ser diferente se aqueles que faziam a diferença nos faltam? Habitua-se, como não, se a tudo o ser humano, um animal excepcionalmente adaptável, se habitua? Mas qual o tempo suficiente para a que a dor se acomode e qual o preço a pagar? A libertação que Deus lhe concedeu foi completa, pois um mês após a sua amada foi conduzida para o seu lado... Esperemos nós (oremos para) que a bondade Divina não permita que nos tornemos cativos da dor causada por essa libertação.

De qualquer forma, que bom que estamos juntos. Que bom ver um post da Naira. Que bom que lágrimas podem ser compartilhadas. Se não suprime a dor, pelo menos a alivia...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Aos bons exemplos

Desde aquela cinza sexta-feira,
levaremos uma vida inteira,
(mas cada qual com seu sozinho),
a carregar essa honrada bandeira,
desfraldada pelo finado pai Ferreira.

Porque homem sem exemplo é homem sem caminho.

domingo, 16 de maio de 2010

Post da Naira

" A gente habitua-se. Sim, ouvimos dizer muitas vezes, ou dizemo-lo nós própios, A gente habitua-se, dizemo-lo, ou dizem-no, com uma serenidade que parece autêntica, porque realmente não existe, ou ainda não se descobriu, outro modo de deitar cá para fora com a dignidade possível as nossas resignações,o que ninguém pergunta é à custa de quê se habitua a gente."
(Saramago)

Sim,provavelmente habituar-nos-emos à tua falta...
mas cá em nossos corações, só Deus e nós sabemos,
à custa de quê nos habituaremos.

Apelo

Hoje faz,senhor, um ano que nos deixou. Alguns afirmam que já nos havia deixado antes da partida derradeira. Nós não cremos. Sempre sentimos um tanto indizível do nosso pai naquele homem de passos rastejantes, olhar atormentado, fala mutilada. Sempre o vimos por detrás da figura medonha do alemão que se avultava no que antes fora. Sempre o reconhecemos nas frases soltas, sábias que assim, no mais que de repente, proferia. Sempre o identificamos no olhar amoroso, cativante com que nos olhava. Sempre soubemos que lá estava o singular homem a quem aprendêramos amar mais do que se previa. Sempre identificamos o lord que habitava nesse espírito cortês, tão apaixonado e apaixonante.
Mas, hoje faz, senhor, um ano que se foi para sempre e sem você, confessamos: um pouco de nós se fez também ausente. A vida ficou assim esmorecida, macilenta, baça....envelheceu. Não perdemos nosso pai, perdemos muito mais, perdemos a referência, a ressonância, o repouso, o reinado; perdemos tanto mais, a intimidade plena de nós mesmos, a entrega de quem se sabe amado amando, o lirismo brincante de quem confidencia...Sem você, a vida ficou assim, esquisita, ficou sem poesia, sua tonta companheira de tantas horas santas.
Hoje faz, senhor, um ano que se foi e nosso peito é só uma saudade infinda, dor que não termina, amor sem vazão. Mas neste suplício, ouço ainda a sua voz: “Deus me pôs numa cadeia”, dita naquela sombria manhã em que mal conseguia sustentar as pernas. Então, senhor, concluo que hoje faz um ano que se libertou. E se não alivia o peito, acalma, consola a alma. Então, meu velho, liberte-se em paz! E que aqui fiquemos nós, ruminando essa nostalgia, aprendendo também a libertar-nos dessa materialidade que tanto nos reduz. E que aqui fiquemos sonhando o reencontro que Ele prometeu!!

domingo, 9 de maio de 2010

Isadora






Como são as coisas, nesse dia das Mães, primeiro sem nossa mãe, tive o primeiro dia das mães com a minha esposa como Mãe. Deus apronta algumas conosco que é difícil de explicar. Sinto-me um abençoado por ter minhas perdas amenizadas pelo presente de ter uma filha. Isso realmente é uma benção.

Seguem algumas fotos da Isadora Henriques de Sousa Ferreira. O Sousa, apesar de ser com S, foi uma forma que Lu e eu achamos de homenagear nossa mãe. Ela sempre reclamava de nós, com aquele ciuminho típico, por conta dos Ferreiras.

Beijos

Mamãe

Hoje, quando acordei quis rezar uma ave-maria para a nossa Maria, mas não consegui...as lembranças chegaram, sem pedir licença, e nos vi correndo para cama de mamãe cheios de alegria e bilhetinhos, desenhos e presentinhos...e assim, como do nada, ouvi essa música que ela bem que tentou me ensinou a cantar...

Ela é a dona de tudo.
Ela é a rainha do lar.
Ela vale mais para mim,
Que o céu, que a terra, que o mar.
Ela é a palavra mais linda,
Que um dia o poeta escreveu.
Ela é o tesouro que o pobre,
Das mãos do senhor recebeu.
Mamãe, mamãe, mamãe...
Tu és a razão dos meus dias.
Tu és feita de amor e esperança.
Ai, ai, ai, mamãe...
Eu cresci e o caminho perdi,
volto a ti e me sinto criança.
Mamãe, mamãe, mamãe...
Eu te lembro chinelo na mão,
O avental todo sujo de ovo,
Se eu pudesse,
Eu queria outra vez mamãe,
Começar tudo, tudo de novo.

Saudades...
Ano de 2009.Coisas tão temidas por nós aconteceram.O estranho é que sempre o medo é maior que o próprio fato,e desta feita ele se mostra mais perverso após o ocorrido.Dia das mães mais sem graça.

sábado, 8 de maio de 2010

O caso Paulino - Segunda Parte


PREZADOS,

Aí vai a complementação da mensagem anterior: sobre esse caso.

Abração.

Que Deus os abençoe sempre.

Tio Tarley

Este foi o e-mail que recebi do Tio Tarley, o qual trazia um anexo acrescentando detalhes ao famoso “Caso Paulino”, ocorrido em Carrancas-MG, que foi publicado recentemente neste Blog.

Enxerido que sou, não resisti e decidi “florear” um pouquinho as informações recebidas.

(No final está o texto original enviado por nosso querido Tio Tarley).


O que segue ouvi de contar e, se assim contam, aqui também conto:

Numa fazenda do município de Carrancas, em Minas Gerais, num fim de tarde, de uma sexta-feira de junho, em tempos idos, muito idos, estava o Virgulino Ferreira (que não era o Lampião), tendo já feito as medições e as ordens de pagamento dos camaradas, no alpendre, cofiando pensativo a barba espessa enquanto pitava um caprichado paeiro, quando se achegou um tipo de bom porte, aparentando ser estrangeiro – argentino, soube-se depois.

- `Tarde!

- `Tarde... Me disseram que o Senhor tá com precisão de um peão (Mineirês com sotaque argentino ou vice-versa).

- Precisão, precisão... Num tenho. Mas tem um novilho desgarrado lá na Serra do Curralinho e se ocê me traiz ele de volta o emprego é seu – Desafiou Virgulino Ferreira.

Embrenhou-se então o argentino, Paulino era o seu nome, nos cerrados da Serra do Curralinho e notícia mais não se teve dele, até que, uma semana depois, aparece o guapo, um tanto estropiado, mas tendo na ponta do laço um novilho cabisbaixo, olhar vexado, trazendo no pescoço a marca “VF” da fazenda de Virgulino Ferreira.

Admirou-se Virgulino Ferreira com o feito e, sendo homem de palavra, deu o emprego ao peão Paulino que por ali se arranchou.

Acontece que Virgulino Ferreira tinha entre as filhas uma que era uma lindeza de menina e manhosinha que ela só: Enquanto Paulino cuidava dos serviços, ela, com ares de recato e extrema discrição, flertava com o peão mais pelo prazer de excitá-lo do que por aspiração própria ou desejo.

Paulino, porém, se apaixonou pela patroinha.

Em dezembro, como ocorre em todo dezembro, a cidade e seu povo animaram-se para a festa de sua padroeira Nossa Senhora da Conceição. Como de costume, o apogeu da festa era o baile oferecido pelos Ferreira do Retiro de Baixo, na Casa Grande.

Para o sarau acorreu toda cidade, de peão a patrão.

Lá estava Lindaurinha, a filha de Virgulino Ferreira, mais bonita do que nunca, assediada e cortejada por todos os mancebos não compromissados das melhores famílias de Carrancas. Nem tempo tinha para descansar em alguma cadeira, tal a afluência de elegantes jovens que a convidavam para dançar.

Pacientemente, Paulino, aguardou sua vez.

Num momento de descuido dos patrõezinhos, se aproximou da bela patroinha e, com muita reverência e respeito lhe solicitou conceder-lhe a próxima dança.

Sorrindo, Lindaurinha fez menção que aceitaria, inclinando-se levemente a se levantar... Porém, em seguida, ainda sorrindo, meneou a cabeça em negação e se afastou dali.

Sob um coro de gargalhadas, Paulino se foi.

No dia seguinte ao do baile, também como de praxe, houve um concorrido leilão cuja renda se reverteria para as obras da Capela da Padroeira da cidade. Muitas prendas eram leiloadas, mas nenhuma mais concorrida do que a “tábua do Paulino” (aqui cabe uma explicação para os jovens Ferreira de hoje: Quando uma dama recusava o convite de um cavalheiro para conceder-lhe uma dança, dizia-se que ela lhe dera e que ele levara “tábua”) e todos se divertiram muito com isso.

Paulino soube do ocorrido.

À noite, novo baile... Quando entrou, Paulino viu Lindaurinha, linda como sempre, rodeada por pretendentes. Enquanto ele dela se aproximava as pessoas se afastavam, deixando o caminho livre até ela, rindo, antevendo a cena da rejeição e do vexame.

Sem dizer uma palavra, Paulino, cravou um punhal no coração de Lindaurinha e a matou.

Ante a perplexa inércia de todos se retirava, até que caíram sobre ele.

O resto da história vocês conhecem.

A seguir o texto recebido de Tio Tarley:


PAULINO

Conforme as informações que tenho (e o Ronaldo confirma), Paulino era uma pião argentino que chegou em Carrancas. Procurou serviço em uma das fazendas (acho que era de um parente nosso).

O fazendeiro falou que só daria serviço se ele conseguisse pegar um touro que estava fugido na serra.

Passado um dia, o Paulino chega na fazenda trazendo o touro pelo cabresto. Foi empregado, então.

Aí o peão vivendo nessa fazenda se apaixonou pela filha do fazendeiro.

Como de costume aconteceu a festa de Carrancas. Teve um baile na “Casa Grande” (que até hoje existe e muito conservada – é linda). Ela (a casa) é da família do Retiro de Baixo – Rozendo.

O Paulino nesse baile chamou a filha do fazendeiro p/ dançar. Ela negou (deu “tábua”).

No dia seguinte houve um leilão. Alguns engraçadinhos colocaram, como prenda a “tábua” que o pião teve no baile.

O Paulino foi notificado do ocorrido. Aí, aconteceu a segunda noite da festa: o mesmo baile, na mesma casa.

Aparece o Paulino e sem perguntar nada enfia um punhal na menina que ele amava e a mata.

Pelos escritos dizem que o “cara” era forte e só parou qdo. Nosso avô-bisavô (Vovô Américo), com sua força mental e física, o prendeu.

Assim se complementa a historia desse caso que até dá uma novela.

Cadê a Globo que já filmou tantas novelas nas cachoeiras de Carrancas?

 

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Maio... Junho...

Dias passam, meses se sucedem...
Meu Deus é maio! Breve será junho....


"...Saudade é amar um passado que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida..."

Pablo Neruda

"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o(s) amado(s) já..."

Pablo Neruda.


Os mortos


Ferreira Gullar

os mortos vêem o mundo
pelos olhos dos vivos
eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias

Ausentes
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de fato
quando vivos
acharam a mesma graça

sábado, 1 de maio de 2010

Vou-me embora.

Esta eu tirei "do fundo baú":


Vou-me embora.
Vou me encontrar com papai e mamãe.
Com meus pais.
Eles não me queriam aqui,
mas se sacrificaram para eu estar aqui.
Não é tarde.
Vou me encontrar com meus pais.

Vou agora.
Nenhum anjo me segura.
Papai, mamãe,
volto
para ser de novo apenas
filhinho de papai e mamãe.
Pobre o homen
que não sonha
que não teme o lobsomen
que não ama
que não tem lumen

Tenho saudades
Dele tomando café
meio cuzinheiro
foi preciso ser

Tenho saudades
Dele olhando o tempo
meio meteorologista
foi necessário ser

Lembro dele
duro -encrespado
lição ao filho
foi preciso dar

Lembro dele
brincalhão -solidário
força ao filho
foi necessário dar

Beije-me

Beije-me, minha linda.
Toque em minha língua.
Ame-me.
O sexo é maior
do que meu amor.
Devore-me, minha paixão.
A mim não basta teu coração.
Queira-ame.
Anseie-me.
E não me diga não
que não não lhe direi.
E assim serei
você
E assim será
eu.
Os dois, uma paixão.

Lembranças


que nada valem


embaralho


na imaginação


como retalhos


tempos idos


peito em frangalhos




Capiau


caipira


natural


natureza


teu visgo


nele insisto


estar preso


como uma mosca


na teia




Na varanda


sonhando sonhos


tão singelos


de simplicidade


quase incompreendida


um jardin


um pasto bem formado


cavalo esperto


tudo verdinho


filhos felizes


netos saudaveis


A felicidade é simples.

Rasqueado

Tunico pensou duas vezes e na terceira se decidiu: Haviam zombado dele e, caipira que era, se zangou.

Tuniquinha apenas se fantasiou para dançar quadrilha. Não era caipira. caipira só ele.

Tinha o Gustavinho, que chegou montado numa hylux, tinha o Terêncio que usava umas botas envernizadas, tinha até o bosta do administrador que arriado que nem ele, decididamente, acreditava poder mais (só nas costa do patrão).

Tunico não tinha hylux, botas envernizadas, nem patrão com poder, mas os olhares de Tuniquinha eram para ele.

Então ousou.

Talvez se fosse uma quadrilha... Mas não, rasqueado.

Os farois da hylux o iluminaram no chão, as botas envernizadas pisaram em sua mão, a bosta do administrador (nas costas do patrão) chutou suas costelas...

Tunico pensou duas vezes e na terceira decidiu: Se zangou de vez.

Hylux vazou, bota envernizada tremeu, filhote de patrão empalideceu...

Tuniquinha, que ria, morreu.