E aí no sem mais, ela saiu à caça das bruxas. Precisava delas, de seus trajes negros, dos cabelos arrepiados, daqueles acessórios góticos, de uma vassoura voadora, talvez. E aí no sem mais, ela contornou a boca carmim e acentuou o decote revelando um cânion que desaguava no recôndito do nada. Estéril que era. E aí no sem mais, calçou a sandália meia-pata, meia-vassoura , pisando firme, exalando vulgar sensualidade...que me importa?
A festa era à fantasia. Metamorfose. E assim, no sem mais, saiu fantasiada do que era. Quem saberia?
Pelas ruas noturnas da cidade, vagavam seres vindos de macabros, exóticos países. As bruxas já a acompanhavam com a naturalidade dos que se encontram ao acaso, cumprindo a mesma loucura. Múmias gritavam sua histeria de morte, vampiros arreeganhavam os dentes de riso fácil, super-heróis traçavam planos de ataque para salvar a urbe da seriedade hipócrita que a dominava enquanto bolinavam asseadas enfermeiras. E cantavam canções de arrepio e bebiam derramado álcool e dançavam uma dança desengonçada buscando o soturno endereço que os receberia.
À entrada de um suntuoso salão, foram recebidos pelo conde Drácula, em pessoa. Trêmulo em sua fissura por sangue. Ela, no sem mais, adotou uma postura nobre e olhar de cortesã e solenemente buscou àquele que seria sua vítima primeira, nessa ordem. Ali, no canto, na penumbra contrastante com o traje, estava aquele que também se fantasiara do que, na verdade, era. Pensou. Vestido de anjo, uma loura criatura contemplava a sinistra festa.
Medindo os passos, ensaiando lânguidos gestos, aproximou-se sutilmente. Não foi surpresa receber o sorriso daquele que fora d’água ensaiava naturalidades
Enredando-o, ardilosa que era, levou-o para o centro da festa e engalfinhando em seu corpo viril, ensaiou uma dança tétrica. Movimentos enérgicos, vibrantes, desenhavam luxuriante delírio. O anjo e a bruxa, a negra e o branco, o bem e o mal... bailam sensual suplício, mortal encontro. Esfregaram-se, cheiraram-se, inundaram-se do nada suicida.
E assim, no sem mais, se reconhecem na fantasia que não usaram. Ela, nas alturas de seus versos; ele, no abismo de sua oração.
Todos medonhos olhos fixavam estranho par. Todos ouvidos clarividentes ouviram imponderável música.
Porém, o que era som, silencio se tornou, o que era jogo metamorfoseou-se em realidade...e assim no sem mais, saíram do centro festivo em busca de ermo ritmo.
E foi ali, onde quase não se vê, e foi ali onde se revela o invisível que anjo e bruxa se buscaram entre sinuosas brumas e tontos de tanto ardor encontraram nele, a mulher enclausurada;na bruxa, o estéril homem.
Que beleza!!!
ResponderExcluirComo escreve essa minha, maninha! Gostei muito, demais... Bjão.
vixe... mamãe maluca ou não?
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