TOCA O BARCO
Thiago Andrade
Não se atrase para ver o mar.
Suas ondas clamam.
Choram.
Dobram-se.
Pelos andarilhos de ontem que nele saíram a velejar.
Soluços vêm com o tempo: é costume.
E não há criança que não adormeça por detrás dos morros da idade.
Dos cabelos desfeitos.
Dos dedos enrugados.
Da carne fraca feita em vento volátil.
Os mortos, também eles, são crianças.
Foi-se o homem da foice às costas.
Do suor salgado ao rosto de sol.
Das pernas brancas.
Das penas do mundo.
Das plagas da enxada.
Era um belo dia para se morrer aos oitenta e sete.
Era a natureza divina acolhendo a vida onde ela termina.
Eram sinos e era a sina.
Porque tudo que está distante virá ao lado.
Todo barro da terra será retirado.
E todo insondável enfim revelado.
Onde habitará o eu fragmentado?
Há que se aguardar pacientemente a vez.
Quando finalmente lassa a tez.
Porque a paga pela procura é ser encontrado.
Bravo!
Aplausos.
Triste silêncio funéreo...
Sai de cartaz o homem, permanece em sua criança o rei etéreo.
Não se atrase para ver o mar.
Suas ondas clamam.
Choram.
Dobram-se.
Pelos andarilhos de ontem que nele saíram a velejar.
Soluços vêm com o tempo: é costume.
E não há criança que não adormeça por detrás dos morros da idade.
Dos cabelos desfeitos.
Dos dedos enrugados.
Da carne fraca feita em vento volátil.
Os mortos, também eles, são crianças.
Foi-se o homem da foice às costas.
Do suor salgado ao rosto de sol.
Das pernas brancas.
Das penas do mundo.
Das plagas da enxada.
Era um belo dia para se morrer aos oitenta e sete.
Era a natureza divina acolhendo a vida onde ela termina.
Eram sinos e era a sina.
Porque tudo que está distante virá ao lado.
Todo barro da terra será retirado.
E todo insondável enfim revelado.
Onde habitará o eu fragmentado?
Há que se aguardar pacientemente a vez.
Quando finalmente lassa a tez.
Porque a paga pela procura é ser encontrado.
Bravo!
Aplausos.
Triste silêncio funéreo...
Sai de cartaz o homem, permanece em sua criança o rei etéreo.
X
X
X
X
UMBELA
Tarlei Ferreira
XX
X
Estava ela absorta
Não ventava nem mesmo uma brisa
Meados de maio
Início de seca
Tempo de sentar na palha
e chupar laranja
Absorta, ela estava
Quando um ventinho arrepiante
passou por entre seus galhos
percorrendo suas folhas
fazendo-a eriçar
De repente um pio noturno
Sentimento de presença
Parecia um sabiá cantor
Mas como?
Ele estava mudo a alguns anos
Então um sussurro
Volta a ser feliz
Estou livre,
posso vagar novamente
Agora no lombo da brisa.
X
XX
X
ATÉ BREVE, MEU PAI
Marcos Aurélio
X
XQuem pela terra viveu,
Da terra sobreviveu,
À terra volveu...
Queira Deus, como semente
de um magnífico jatobá,
a vingar no alto de uma vertente
onde sua sombra me aguardará.
Queira Deus
Sejam estes versos, não um adeus,
Mas sim, sem nenhum ai,
Um até breve, meu pai.
Da terra sobreviveu,
À terra volveu...
Queira Deus, como semente
de um magnífico jatobá,
a vingar no alto de uma vertente
onde sua sombra me aguardará.
Queira Deus
Sejam estes versos, não um adeus,
Mas sim, sem nenhum ai,
Um até breve, meu pai.