sábado, 25 de julho de 2009

Causos de Milton Ferreira (Tela Azul)

Papai tinha o sonho de ser um grande produtor de café (além de grande produtor de leite, de milho, de feijão... E talvez de tudo o que pudesse ser produzido naquelas férteis terras da Fazenda dos Coelhos, na Estação de Paulo Freitas, no Município de Itutinga, MG.) e, para isso, sem medir esforços, deu vazão ao seu instinto empreendedor, ousado e pioneiro, com impressionante ímpeto, como se entre o curto espaço de tempo transcorrido entre cada nascer e por de sol dez anos transcorreriam.

Assim, rapidamente a bela Fazenda dos Coelhos se transformava ao sabor de seu apetite empreendedor e, não necessariamente nesta ordem, obras se sucederam: A sede foi reformada, a fábrica de queijos construída, o rancho, a cocheira e o curral, o tanque de banhar gado, silos trincheira e em alvenaria, casas de colono, o paiol, o galinheiro, o chiqueiro e, bem em frente à sede, três grandes “terreiros de café” – terreirões – sendo um, o mais próximo da cocheira, em pedra (lajes) e cimento, o segundo totalmente com cimento e o terceiro em terra batida. Na frente dos dois primeiros, o de pedra e o de cimento, foi estendida uma tela em arame galvanizado, para evitar a entrada de animais, especialmente os cavalos que comumente eram deixados a pastar na grama que os margeava.

Caprichoso, papai se deu ao trabalho de pintar a tela na cor azul...

Pouca ou nenhuma diferença fez!

Ninguém percebia que a tela havia sido pintada e foi isso que o Édno, um sobrinho por quem papai tinha especial apreço e que era um grande gozador, passando férias por lá, ironicamente comentou.

Percebendo que papai havia ficado aborrecido, para amenizar, ele se justificou: "Depois que se comenta, a gente até percebe a cor azul.”.

Papai ouviu e nada disse.

Dias depois, penduradas ao longo da cerca, havia placas nas quais se lia:

TELA AZUL...

Problema resolvido!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Missifufi



A pedido do dono do blog, aí está um fragmento de uma história que já tem ,creio que,cinquenta páginas...história abandonada.Não era assim tão boa.

Chegando em casa, as irmãs entraram pelo portão lateral, de cima Nas pedras Luminárias, luz e sombra brincavam num emaranhado louco. Naquele ponto em que nada se define, mas que tanto seduz, Maria chorou uma lágrima que rapidamente secou no calor do mármore. Há gente na varanda. O pai, atento, vê o abatimento da filha e num gesto tresloucado, estúpido, de brincadeira, atiça o cão Bandoleiro no gato Missifufi.Meu Deus, agora não! Os pelos do felino eriçados, os olhos buscando fuga, esconderijo...O embaixo-do-tanque,logo ali... Rosnar ruidoso rasgando rude o resto do dia; miados estridentes, lancinantes dilacerando a entrada da noite...Tudo no embaixo-do-tanque...Tentativa em vão de socorro, perplexidade, desespero e os olhos tão embaçados da incompreensão viram o gato, gatinho, nhonhento, amado, macio sair. Nossa Senhora, arrastando as patinhas traseiras, caminhando bêbado, não entendendo nada do ser meio-gato...Sete vidas? Sete mortes! Maria olha o pai, a tristeza grita, o eco imita...Leva ela prá -lá! Vai ter que sacrificá! Toma esse copo d’água com açúcar! Sai! Pai berra em desespero: SAI! Passarinho.Missifufi.O pai...Sal, açúcar, luto, medo, abandono... O eu se encolhendo...E novamente o temporal desaba, a terra lança seu cheiro de cio, uma manga cai da mangueira, verde...Verde...Um som seco de porrete ecoa. O silêncio do gato, a tagarelice do camarada-cachaceiro... O mundo nos seus indefinidos contornos, na sua fatalidade, no seu sufrágio...A vida no seu deboche, no seu faz-de-conta de ser feliz.
- Filha, se acalme. Papai só quis te alegrar; ele, às vezes, é tão desastrado –consola a mãe, segurando o copo.
Mergulhar, mergulhar, mrgglhr, mr...Ar! Ar...Ar...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Missifufi???



Essa foto é apenas para provacar a Cocada para que ela post aqui aquele texto!

Será que ela o fará?
Bem, eu nem sei escrever o nome do gato...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Dando rasteira na tristeza


A primeira vez em que ouvi a expressão, não sei se cunhada por ele, foi numa conversa que tive, por telefone, com o Maia:

- E ai? Belezzz?

- Tocando a vida... Dando rasteira na tristeza...

Pego de surpresa pela frase, maravilhei-me com a sua força... “Dar rasteira na tristeza”, que coisa!

Talvez o meu deslumbramento tenha decorrido do fato de que, desde meninos, aprendemos a força de uma rasteira bem aplicada, quando, por um motivo qualquer, geralmente fútil, dois do grupo se engalfinhavam para resolver alguma pendenga antiga.

- Dá uma rasteira nele! – Instigava a turba que prontamente se aglomerava em volta dos contendedores. Uníssonos, embora cada um dirigisse o incitamento ao opositor de sua preferência.

- Dá uma rasteira nele!

E se assim acontecia, era a simultaneidade do apogeu e da derrocada.

Então eu imaginei a tristeza, após uma bela rasteira, estendida no chão – a testa suada, a cara suja, os olhos arregalados, admirada com o desfecho dos acontecimentos – e o regozijo daquele, a quem ela tentara subjugar e que a surpreendera com tão admirável golpe.

Dando rasteira na tristeza!

Mas poderia também ser em razão do sentido que assume a palavra rasteira no mundo corporativo: Enganar, levar vantagem, ludibriar... Sendo que, neste caso, a beleza seria encontrada no fato de se ter rasteirado uma safada... No caso, a tristeza.

Então é isso.

Neste final de semana, vamos todos dar uma rasteira na tristeza.

Bom final de semana Ferreirada.

Mãos de Lavrador

Mais um post que garimpo nos comentários. Esse veio de um anônimo (devidamente não identificado). Mas como - creio eu - já sou capaz de identificar os estílos da Ferreirada, estou o creditando ao Thiago (mais um correspondente que não corresponde). Se errei, por favor, me corrijam.

O título foi sugerido por mim... Se o autor não gostar (o que acho bastante provável) me avise que o retiro ou coloco o título que ele julgar adequado.

Sugiro a Cocada que transfira seu comentário para este post.


(Quanto pretensão minha por julgar-me conhecedor do "estilo da Ferreirada", não bati nem na trave! Com a correção apontada por Cocada, registro agora o crédito do belíssimo poema para nosso querido irmão Tarlei).

Fica assim, então:


Mãos de Lavrador
(título provisório)
Tarlei

Cabeça miúda
de crina pouca
branca e esvoaçante
lábios finos
e apertados
compleição modesta
mas férrea
as mãos impressionam

Mãos nodosas
de grotas
e vertentes
Calosas
de sulcos
e vales

Mãos da terra
de sonhos
e de luta
lavradoras
de plantas
e regas

Mãos duras
de força
e garra
rústicas
de machucaduras
e cortes

Agora no peito
magras
descarnadas
silenciosas
pacatas
surdas.


sábado, 11 de julho de 2009

Morrinho


Estamos todos na cozinha, todos falam ao mesmo tempo de um tempo singular, um tempo só-ali...todos lembram das brincadeiras e aventuras de uma meninice ímpar...e naquela manhã, papai acordara ainda mais cedo, a lenha estralava nos seus joelhos, gemia no fogo; o cheiro bom de café e hortelã vestiu o ar e acordou toda a casa que neste dia subiria a serra

Testando

Acho que consegui popstar algo...bj a todos

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Roçada

Estes meus manos!

Agora é o meu correpondente para assuntos do Centro-Oeste que não consegue postar (aliás, nem se cadastrou como autor ou colaborador, não aceitando, assim, um dos inúmeros convites que lhe fiz... Tô mesmo mal arrumado!), daí tenho que ficar garimpando nos raros comentários um provável post, como este que encontrei de um tal "anônimo" (devidamente assinado pelo Tarlei).


ROÇADA
- Lembranças de Infância -
Tarlei

Saímos cedo
Não cedinho
Após a tirada do leite
Trato de porcos e galinhas.
Eu na garupa
Tentando não tagarelar
O pai estava sisudo
Melhor não amolar
No capim da beira do caminho
Ainda tinha orvalho
O que dava um tom prateado na relva
Com o lumiar do sol matutino
Avistei alguns passarinhos
Como o trinca ferro
E a arredia alma de gato
Que disfarçava na ramagem do esporão de galo
Nada comentei
Pois o velho continuava calado
Ouvi latidos
Logo apareceram cachorros magros:
Um amarelo e outro cinza.
Sai cachorro, vai deitar Leão
Fizeram com que deitassem, desconfiados em algum canto.
As cabaças com água embaixo das moitas de capim gordura
Os caldeirões de comida embrulhados em panos brancos muito limpos
dependurados em galhos fora do alcance dos cachorros
O cheiro marcante e gostoso do mato morrendo, o sibilar das foices
relampeando ao sol.
Chapéu na mão em sinal de respeito
- Bom dia.
- Como vai o serviço?
- Tem muito espinho, garrancho. O serviço não está rendendo.
- Aperta o passo. Se não vocês não tiram a tarefa combinada.
- Sim senhor.
Faz-se então a vistoria na área roçada.
Cuidado com as pontas de pau,
estrepe perigoso.
- Este pessoal é mole, está pegando o serviço tarde.
Toca o cavalo para o lado da sede.
Cara de poucos amigos.

sábado, 4 de julho de 2009

Um Blog

Vamos fazer o seguinte: Estamos todos na cozinha lá de casa, em Lavras, cidade de onde cada um pode puxar um retalho seu, um retalho da alma de cada um (Que pieguisse!), um pedacinho de cada história... (Mais piegas ainda! Mas o que fazer se somos assim um tanto passionais?)

Depois tudo se explica.

Mas então, aqui estamos nós: Papai e mamãe dormindo, eu sentado (literalmente) na mesa e me julgando - por conta de ser o mais velho - 0 dono da prosa; Naira administrando o espaço e controlando os custos e os exageros; Tarlei exagerando (indepedente do esforço da Naira), cantando, dando cascudos, gargalhando... ufa!, Milton ponderando, mediando, fazendo dueto... Ufa!, de novo; Humberto "sacaneando" a tropa e se divertindo com o espanto de cada um; Maria Aline, raramente presente e quando presente, amando tudo e emprestando a sua beleza rara (Ufa,! Uma vez mais); Mirian, deslumbrada com a família que tem, rindo, sorrindo e pensando eu faço parte da arte de Deus; Nelson - Será que um dia conhecerei o Nelson? - acompanhando o desenrolar dos fatos, a meia distância, com uma opinião bem formada e pronto para trucar com o quatro de paus na mão; Walisson - com crédito por ser meu afilhado e o mais novo do clã - esnobando a nossa idiotice e curtindo a nossa grandeza...

Caraca! Esqueci a banda podre!!!

Que coisa, Hein? Qualquer um dessa turma (podre) tem o direito de me jogar no chão, não por eu ser o mais velho (e, portanto, mais fraco), mas, principalmente, porque qualquer um deles é melhor do que eu, e mais, por porque todos eles, até então, me toleraram.

Mas então, este é o blog "Os Ferreira". Que tal, nos juntarmos nessa cozinha?

Ara, Lilia!

Pois é, então... Ficar sem ele não poderia
Não é, Dona Lilia?
Safadinha!
Afinal, quem a premiou com a cabacinha
Exclusiva e matinalmente abastecida
Com o leite, por ele ordenhado, da vaca memória?
Que história!
Quem, se não ele, reservaria (e protegeria)
O último banho da noite para Dona Lilia?
Pois é, então... Nem mais, nem menos, nem meio.
Quem, se não ele, arrearia o Marengo
Com a melhor manta, o melhor o arreio,
só para agradar o seu dengo?
Quem, se não ele, quando aborrecido, diria:
"Ara, Lilia!..."
Ara, Lilia!
E ara, uma vez mais...
Que falta você me faz!
Safadinha!
Ficar sem ele não poderia,
Não é Dona Lilia?
Quem, se não ele, abriria trilha
Até o pomar, só para Lilia Passar?
Quem, se não ele, amaria cada filha,
Cada filho... Mas mais a Lilia
Safadinha!
Mais, muito mais...
Só você...
Ara, Lilia!
E ara, uma vez mais...
Que falta você me faz!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Fernando Pessoa

Este post é para ajudar a maninha Mirian (Cocada) que consegue comentar, mas não consegue "postar" (Ou seria popstar, como ela escreve abaixo? Talvez um post "pop"...). Que coisa, hein?

Nada a ver com o mineirês...Queria popstar(chique não?)um poema de Pessoa, mas a ignorância assola-me (nossa!):


A criança que fui chora na estrada
Deixei-a ali quando vim ser quem sou:
Mas hoje vendo que o que sou é nada,
quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah! Como ei de encontrá-la?Quem errou
Na vinda tem regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber minha alma está parada

Se ao menos atingir este lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o , relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal como fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim."


Aos que não amam poesia...tolerem-me!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Causos de Milton Ferreira (O campo de aviação)

Já comentei, num outro post, acerca da sanha empreendedora de nosso pai, a qual acabou por transformar, em certas ocasiões, a nossa querida Fazenda dos Coelhos num verdadeiro canteiro de obras... Tal fato, além disto, nos propiciou passagens divertidas, como em mais esse “causo de Milton Ferreira”:

Construída a fábrica de queijos, seguramente a mais moderna da região, e não tendo nosso pai nenhuma experiência na produção dos derivados de leite e menos ainda na sua comercialização, decidiu ele a arrendar para o Sr. Hanz Noremose, um senhor de origem holandesa, radicado em Minduri – MG, onde se tornou um dos mais respeitados produtores de derivados do leite, sob a nacionalmente conhecida marca dos laticínios Danna.

Ocorre que o Sr. Hanz possuía um aviãozinho mono-motor (teco-teco) do qual fazia uso para seus deslocamentos até as suas fábricas espalhadas no sul de Minas Gerais, e nosso pai – não sei se a pedido do Sr. Hanz, ou não – prontamente tratou de preparar, bem no alto do “pasto de cima”, um campo de aviação para os pousos e decolagens da máquina voadora do holandês.

E finalmente chegou o dia da primeira visita do Sr. Hanz Noremose em sua mais nova instalação para produção de laticínios.

Já no dia que antecedeu à sua chegada, a expectativa era grande, e os últimos preparativos foram providenciados a toque de caixa: Mamãe cozeu um enorme coador de café, que, segundo instruções de papai, faria, após pendurado no comprido bambu, a função de uma biruta; Papai inspecionou mais uma vez a pista e fazendo uso de sua quase inseparável foice, deu os últimos retoques no campo, podando um ou dois arbustos mais atrevidos, algumas moitas de juá ou de assa-peixe; E, Passarinho, devidamente orientado, demarcou o meio do campo, com um enorme círculo desenhado com cal...

A expectativa era de que o “pássaro mecânico” surgisse no horizonte por volta das dez horas da manhã.

Assim, por volta das nove horas – provavelmente até mesmo antes disso – estávamos todos a postos, a espera do heróico pouso do teco-teco. Papai, mamãe, alguns empregados, filhos (não me lembro quais empregados e nem quais os filhos, sei que eu estava lá, para testemunhar o acontecido)...

Céu muito azul, quase sem vento... A biruta murcha, pendida ao longo da haste de bambu, em razão do peso excessivo do tecido e principalmente porque uma biruta definitivamente não é um coador grande, e em que pesasse o esforço de papai em fazê-la cumprir seu papel, através de insistentes chacoalhadas no bambu, nada indicava, assim como nenhum avião manchava o azul do céu...

As horas passavam... As crianças já um tanto desinteressadas do evento, se entretínham com outros folguedos, papai e mamãe firmes, os empregados meio sem jeito, cabisbaixos e... Mas eis que surge o esperado!

Uma agitação! Lenços e mãos são abanados, assovios, sacudidelas na biruta broxa... E o aviãozinho, insensível, passa por sob nossas cabeças, faz a volta na altura da fábrica, cerca de um quilômetro dali, uma, duas, três vezes e desaparece no horizonte.

Algum tempo depois chega o um Sr. Hanz, vermelho, afogueado pelo sol e suando mais do que o cavalo no qual vinha montado e que tomara emprestado do João Lopes...

O pouso foi realizado num campo de futebol , mínimo, talvez um terço do que papai preparou, que ficava próximo a venda do dito João Lopes, na Estação de Paulo Freitas, a cerca de seis quilômetros de nossa sede.

Claro que nosso pai não se deu por vencido.

Tempos depois, com os devidos ajustes e sem a biruta impotente, o campo de aviação do Seu Milton passou a ser usado regularmente, quando das visitas do Sr. Hanz a sua fábrica.