Aí está mais uma estorinha...é claro que vocês a conhecem,porém essa é a minha criação dos fatos...liberdades, supostamente literária.
"Maria sentiu-se aliviada, o ar chegava-lhe aos pulmões. E os pensamentos voltavam-lhe à mente. Escutou o azulão cantando na cozinha, estranho pássaro que canta noite adentro.Seria um presságio?Ou,quem sabe,seria apenas música etérea?Gorjeios... Seria ela levada por uma sinfonia de... Sinfonia de pardais anunciando o amanhecer...
-Tem alvorada, tem passarada, alvorecer...E o morro inteiro ao fim do dia reza uma prece ave-maria - cantava docemente a mãe, enquanto abria as enormes janelas da casa da fazenda, deixando entrar o cheiro gostoso do eucalipto, os sons dos animais, as vozes das empregadas e da criançada, já na horta.Suas mãos delicadas agilizavam o dia e prometiam para a dureza deste um pouco de poesia.
- Mãe, olha a manga que apanhei pra senhora. Estava lá na pontinha do galho.Apanhei sem deixar cair – gritou afogueado Benedito.
- Que beleza, filho, vou chupá-la escondidinha – brincou a mãe.
Benedito era o irmão do meio, a euforia da casa. Menino forte, expedito (gostava da palavra pelo trocadilho), levado da breca, sedutor...De todos conseguia perdão. Tinha um jeito tão manhoso de se fazer perdoado que a gente da casa ia assim, perdoando, sem saber que o fazia. Adorava a mãe e era para ela que trazia a manga mais gostosa, a flor mais cheirosa, o agrado mais delicado. A mãe era, para ele, uma espécie de guardiã. Quando Benedito caprichava na bagunça e o pai colérico queria lhe arrancar o couro, era mãe que, afobada, desviava o encontro fatídico entre pai e filho.
- Bené, que horas você vai estudar para prova ? - perguntou a mãe preocupada e já sabendo que uma desculpa espirituosa sairia daquele riso matreiro
- Depois, depois mãezinha. Hoje estou atarefado.Pai me mandô ir na estação trazê açúcar.Sou, nessa casa, pau pra toda obra. Não vê minha batata. Sou Tarzan, só falta a Chita –brincou -A senhora quer alguma coisa? Pega o embornal para mim, mãe. Pai já tá dando aquele assobio de arrepiá os cabelo - sussurrou o menino.
-Olha como fala ,menino. Olha que falta faz o estudo -repreendeu a mãe.
- Não vai fazê pra mim. Vou ficá rico, vou ser fazendeirão que nem Custódio. Metido, vou ser. De cavalo bom, camionete Tesoto e curral cheio, tudo gado holandês.
- Seu avô tinha tudo isso – lamentou a mãe e pôs um olhar tão saudoso para o lado do curral que fez o coração de Bené apertar.
- Seu filho vai ter tudo isso e você mãezinha vai ficar importante, tão importante como Vó Chichica, cheia de nove horas.
- Não implica com sua avó – censurou.
- É sua mãe, é verdade, mas não é à toa que Maria chama ela de vovó pimenta – retrucou Bené já correndo para o porão de arreio.
- Olha o português -corrigiu a mãe - Maria...Essa menina está voluntariosa que só... E seu pai dá muita trela...resmungou.
Bené já não mais ouvia. Montado no cavalo, cheio de pose, lá ia galopando rumo à estação de trem. Maria o viu de longe. Admirava o indômito irmão, a abarbarada criatura. Nada conseguia detê-lo, também ela ambicionava aquela agilidade, a alegria valente de quem se deixa levar pela vida...
Mas ...Bené demorou na venda da estação. O dia findando e, o moçoilo não voltava. Pai e mãe olhavam aflitos a estrada...Nem sombra do cavalo e seu cavaleiro errante; a criançada pelos cantos confabulava imaginando onde se metera Bené. Alguma ele estava aprontando, não havia dúvida. O primogênito, na responsabilidade que lhe conferia a posição, já se preparava para sair em busca do menino capeta, quando se ouviu um corre-corre, um Deus nos acuda, um Virge Maria valei-me, na cozinha.
- Nossa Senhora, Bené se pegou com o filho da Rola no corguinho de baixo, deu uma surra no coitado que ele ficou lá, estirado na água. Dorgino quer matar Bené, diz que fio de patrão nenhum faz isso com fio dele -falava apressadamente Maria Caetana às outras empregadas.
- São Benedito, nos acuda! E o mantimento que vinha da venda? - perguntou Divina não aguentando de curiosidade.- Bené, ah menino danado!
- O saco de açúcar caiu no corgo...Hoje peixe vai comer doce -riu gostoso a cozinheira.
- Corre Divina, cerca Bené! Manda-o vir pelo portão da horta que o pai está bufando no alpendre. Vai acabar com ele –alardeava a mãe, já se colocando na defensiva.
Porém, antes que a empregada tomasse qualquer iniciativa, a mãe desceu as escadas em disparada ao encontro do filho, mas ao vê-lo molhado, rasgado, segurando o saco de açúcar vazio, o olho roxo e aquele risinho safado:
- Não disse, mãe, que comigo ninguém pode. Moí o valentão - falou entre dentes Bené.
- Ninguém pode, não é Benedito? –gritou mãe e foi ligeira, tremendo, tirando o chinelo do pé que dançou bonito, ritmado na bunda do menino.
- Ai! Ai! Ai!-pulava Bené na cadência da batida.
Da varanda, as empregadas viam o pandepá, a pândega, o pandemônio...Tonho varrendo o terreiro, segurava o riso. Divina, doutora em Bené,sussurrou ao pé do ouvido de Maria Caetana:
- Garanto que comadi Rola tá no meio. Querdita que o capeta tá fingindo que dói. Chinelo de pano...-tampou a boca para a risada não escapar.
Bené esperou a mãe se acalmar e saiu de fininho, de cabeça baixa; muito sentido até sumir de vista da raiva materna. Depois, soltou larga a sua risada...Estava meio estropiado, pois sim; mas deu uma lição no outro e além, a Rola valia a pena...Mulata cheia de curvas e reentrâncias...Era mulher de Dorgino, mãe do mulatinho metido a invocado, mas, engraçara-se pro lado dele e as reentrâncias pediam um homem de conhecimento e esse, pois não; era ele. A coisa ia ficar feia. O chinelo de pano da mãe amaciara as nádegas para a correia do pai. Dorgino jurara não respeitar o fio do patrão e da novena ele não sabia a metade.Ah Rola, Rolinha do meu coração.
Sempre em busca das últimas, a noticiosa Francisca veio vindo em auxílio do irmão:
- Bené, pai está andando de um lado para o outro, só esperando você cansar de se esconder. Dorgino já veio falar com pai e pediu as contas, mas te jurou de morte. Só ouvi pai dizendo que nessas terras não tem assassino e que todo corno que se preze vai esconder sua vergonha em outras paragens.
- Me lasquei Esse camarada faz falta.Como pai sabia do achego? – ajuizou - Nem Dorgino sabia, só o filho dele.Desgraçado, viu o que não era pro seu bico. Rola vai se embora?
-Tem vergonha, não? Olha a confusão. Divina, com ciúme, acabou dando com a língua nos dentes. Vem, vamos entrar. Mãe está se remoendo de remorso. Está apavorada com essa história toda.Você diz pro pai que não foi culpa sua, que Rola é assanhada, coisas de homem...Vocês se entendem.
Devagarzinho, tímida, amedrontada, Maria foi se aproximando.Também ela queria se fazer necessária, também ela queria mostrar sua preocupação com Bené. E mal tocou no ombro de Francisca, e já os dois em uníssono gritaram:
- Vai embora daqui, Repórter Esso. Já contou pro pai, não é sua linguaruda?
Maria ia responder, quando ouviu o som da correia deslizando entre os prendedores, virou e viu a figura enorme do pai que vinha em passos largos para cima de Bené.
-Não pai, não...-murmurou o menino
-Pai, não é culpa dele, foi a Rola...-gemia Francisca.
-Desapareçam, meninas!...Isso não é coisa para vocês.
As duas apavoradas, saíram correndo.Mortificadas, ouviram as correiadas estalando no corpo rijo de Bené. O menino não chorava, nem um gemido soltava...Orgulhoso esse filho de meu pai. Maria ainda o olhou uma vez mais.Ajoelhado, encolhido em si mesmo, recebia o couro paterno, mas Maria viu seus olhos encarnados e esses prometiam vingança:
-Francisca, acredite, não fui eu que contei pro pai onde estava o Bené. Apenas adivinhei e papai me seguiu-explicou a menina
-Retardada, nunca pensa antes de agir. Você me paga Maria! Coitado do Bené, pai vai esfolar o lombo dele. Você me paga...-grunhia a irmã.
Humilhada, Maria se afastou. Era uma desastrada. Não queria aquela violência. Pai sabia ser bravo, enérgico, quando era preciso. E ademais, Bené era impossível. Parecia que o irmão gostava de provocar pai, sempre o desafiando, medindo forças. E agora o camarada Dorgino ia embora.Ia fazer falta, meu Deus!Coitado do pai, coitado do Bené...Coitadinha de mim..."
-Tem alvorada, tem passarada, alvorecer...E o morro inteiro ao fim do dia reza uma prece ave-maria - cantava docemente a mãe, enquanto abria as enormes janelas da casa da fazenda, deixando entrar o cheiro gostoso do eucalipto, os sons dos animais, as vozes das empregadas e da criançada, já na horta.Suas mãos delicadas agilizavam o dia e prometiam para a dureza deste um pouco de poesia.
- Mãe, olha a manga que apanhei pra senhora. Estava lá na pontinha do galho.Apanhei sem deixar cair – gritou afogueado Benedito.
- Que beleza, filho, vou chupá-la escondidinha – brincou a mãe.
Benedito era o irmão do meio, a euforia da casa. Menino forte, expedito (gostava da palavra pelo trocadilho), levado da breca, sedutor...De todos conseguia perdão. Tinha um jeito tão manhoso de se fazer perdoado que a gente da casa ia assim, perdoando, sem saber que o fazia. Adorava a mãe e era para ela que trazia a manga mais gostosa, a flor mais cheirosa, o agrado mais delicado. A mãe era, para ele, uma espécie de guardiã. Quando Benedito caprichava na bagunça e o pai colérico queria lhe arrancar o couro, era mãe que, afobada, desviava o encontro fatídico entre pai e filho.
- Bené, que horas você vai estudar para prova ? - perguntou a mãe preocupada e já sabendo que uma desculpa espirituosa sairia daquele riso matreiro
- Depois, depois mãezinha. Hoje estou atarefado.Pai me mandô ir na estação trazê açúcar.Sou, nessa casa, pau pra toda obra. Não vê minha batata. Sou Tarzan, só falta a Chita –brincou -A senhora quer alguma coisa? Pega o embornal para mim, mãe. Pai já tá dando aquele assobio de arrepiá os cabelo - sussurrou o menino.
-Olha como fala ,menino. Olha que falta faz o estudo -repreendeu a mãe.
- Não vai fazê pra mim. Vou ficá rico, vou ser fazendeirão que nem Custódio. Metido, vou ser. De cavalo bom, camionete Tesoto e curral cheio, tudo gado holandês.
- Seu avô tinha tudo isso – lamentou a mãe e pôs um olhar tão saudoso para o lado do curral que fez o coração de Bené apertar.
- Seu filho vai ter tudo isso e você mãezinha vai ficar importante, tão importante como Vó Chichica, cheia de nove horas.
- Não implica com sua avó – censurou.
- É sua mãe, é verdade, mas não é à toa que Maria chama ela de vovó pimenta – retrucou Bené já correndo para o porão de arreio.
- Olha o português -corrigiu a mãe - Maria...Essa menina está voluntariosa que só... E seu pai dá muita trela...resmungou.
Bené já não mais ouvia. Montado no cavalo, cheio de pose, lá ia galopando rumo à estação de trem. Maria o viu de longe. Admirava o indômito irmão, a abarbarada criatura. Nada conseguia detê-lo, também ela ambicionava aquela agilidade, a alegria valente de quem se deixa levar pela vida...
Mas ...Bené demorou na venda da estação. O dia findando e, o moçoilo não voltava. Pai e mãe olhavam aflitos a estrada...Nem sombra do cavalo e seu cavaleiro errante; a criançada pelos cantos confabulava imaginando onde se metera Bené. Alguma ele estava aprontando, não havia dúvida. O primogênito, na responsabilidade que lhe conferia a posição, já se preparava para sair em busca do menino capeta, quando se ouviu um corre-corre, um Deus nos acuda, um Virge Maria valei-me, na cozinha.
- Nossa Senhora, Bené se pegou com o filho da Rola no corguinho de baixo, deu uma surra no coitado que ele ficou lá, estirado na água. Dorgino quer matar Bené, diz que fio de patrão nenhum faz isso com fio dele -falava apressadamente Maria Caetana às outras empregadas.
- São Benedito, nos acuda! E o mantimento que vinha da venda? - perguntou Divina não aguentando de curiosidade.- Bené, ah menino danado!
- O saco de açúcar caiu no corgo...Hoje peixe vai comer doce -riu gostoso a cozinheira.
- Corre Divina, cerca Bené! Manda-o vir pelo portão da horta que o pai está bufando no alpendre. Vai acabar com ele –alardeava a mãe, já se colocando na defensiva.
Porém, antes que a empregada tomasse qualquer iniciativa, a mãe desceu as escadas em disparada ao encontro do filho, mas ao vê-lo molhado, rasgado, segurando o saco de açúcar vazio, o olho roxo e aquele risinho safado:
- Não disse, mãe, que comigo ninguém pode. Moí o valentão - falou entre dentes Bené.
- Ninguém pode, não é Benedito? –gritou mãe e foi ligeira, tremendo, tirando o chinelo do pé que dançou bonito, ritmado na bunda do menino.
- Ai! Ai! Ai!-pulava Bené na cadência da batida.
Da varanda, as empregadas viam o pandepá, a pândega, o pandemônio...Tonho varrendo o terreiro, segurava o riso. Divina, doutora em Bené,sussurrou ao pé do ouvido de Maria Caetana:
- Garanto que comadi Rola tá no meio. Querdita que o capeta tá fingindo que dói. Chinelo de pano...-tampou a boca para a risada não escapar.
Bené esperou a mãe se acalmar e saiu de fininho, de cabeça baixa; muito sentido até sumir de vista da raiva materna. Depois, soltou larga a sua risada...Estava meio estropiado, pois sim; mas deu uma lição no outro e além, a Rola valia a pena...Mulata cheia de curvas e reentrâncias...Era mulher de Dorgino, mãe do mulatinho metido a invocado, mas, engraçara-se pro lado dele e as reentrâncias pediam um homem de conhecimento e esse, pois não; era ele. A coisa ia ficar feia. O chinelo de pano da mãe amaciara as nádegas para a correia do pai. Dorgino jurara não respeitar o fio do patrão e da novena ele não sabia a metade.Ah Rola, Rolinha do meu coração.
Sempre em busca das últimas, a noticiosa Francisca veio vindo em auxílio do irmão:
- Bené, pai está andando de um lado para o outro, só esperando você cansar de se esconder. Dorgino já veio falar com pai e pediu as contas, mas te jurou de morte. Só ouvi pai dizendo que nessas terras não tem assassino e que todo corno que se preze vai esconder sua vergonha em outras paragens.
- Me lasquei Esse camarada faz falta.Como pai sabia do achego? – ajuizou - Nem Dorgino sabia, só o filho dele.Desgraçado, viu o que não era pro seu bico. Rola vai se embora?
-Tem vergonha, não? Olha a confusão. Divina, com ciúme, acabou dando com a língua nos dentes. Vem, vamos entrar. Mãe está se remoendo de remorso. Está apavorada com essa história toda.Você diz pro pai que não foi culpa sua, que Rola é assanhada, coisas de homem...Vocês se entendem.
Devagarzinho, tímida, amedrontada, Maria foi se aproximando.Também ela queria se fazer necessária, também ela queria mostrar sua preocupação com Bené. E mal tocou no ombro de Francisca, e já os dois em uníssono gritaram:
- Vai embora daqui, Repórter Esso. Já contou pro pai, não é sua linguaruda?
Maria ia responder, quando ouviu o som da correia deslizando entre os prendedores, virou e viu a figura enorme do pai que vinha em passos largos para cima de Bené.
-Não pai, não...-murmurou o menino
-Pai, não é culpa dele, foi a Rola...-gemia Francisca.
-Desapareçam, meninas!...Isso não é coisa para vocês.
As duas apavoradas, saíram correndo.Mortificadas, ouviram as correiadas estalando no corpo rijo de Bené. O menino não chorava, nem um gemido soltava...Orgulhoso esse filho de meu pai. Maria ainda o olhou uma vez mais.Ajoelhado, encolhido em si mesmo, recebia o couro paterno, mas Maria viu seus olhos encarnados e esses prometiam vingança:
-Francisca, acredite, não fui eu que contei pro pai onde estava o Bené. Apenas adivinhei e papai me seguiu-explicou a menina
-Retardada, nunca pensa antes de agir. Você me paga Maria! Coitado do Bené, pai vai esfolar o lombo dele. Você me paga...-grunhia a irmã.
Humilhada, Maria se afastou. Era uma desastrada. Não queria aquela violência. Pai sabia ser bravo, enérgico, quando era preciso. E ademais, Bené era impossível. Parecia que o irmão gostava de provocar pai, sempre o desafiando, medindo forças. E agora o camarada Dorgino ia embora.Ia fazer falta, meu Deus!Coitado do pai, coitado do Bené...Coitadinha de mim..."
"Reporter Esso" foi ótima! Essa é "véia", hein?
ResponderExcluirEsse Bené!
Bom, à moda do Toma lá da cá: "Prefiro não comentar"!