quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sorin

Ontem Sorin, um dos maiores ídolos de todos os tempos da torcida cruzeirense, se despediu do futebol. Foi no Mineirão, em uma partida festiva contra os Argentinos Jurniors, time que o lançou, vencida pelo Cruzeiro por 2 x 1, e cujo ingresso pode ser obtido através da troca por um quilo de alimento não perecível.


CRUZEIRO 2 x 1 ARGENTINOS JRS

Escalações:

Cruzeiro: Fábio (Andrey depois Rafael); Diego Renan, Gil (Jancarlos), Fabinho (Neguete) e Sorín (Athirson); Henrique, Marquinhos Paraná (Elicarlos depois Uchôa), Fernandinho (Sorín) e Gilberto (Bernardo); Thiago Ribeiro (Guerrón) e Wellington Paulista (Eliandro depois Leandro Lima)

Argentinos: Peric (Frandino); Basualdo, Fernández, Berardo (Sola) e Sola (Alfonso); Lima, Rius (Salazar), García (Dominguez) e Gianni (Santibañez); Romero (Jaime) e Alfonso (Sorín depois Franco

Técnicos: Adílson Batista (CRU) ; Norberto Batista (ARG)

Gols: Bernardo, 7min, 2ºT-Guerrón, 20min, 2ºT ; Santibañez, 44min, 2ºT

Local: Estádio Mineirão, em Belo Horizonte (MG)
Público: 42.216 (público presente) - 58.840 ingressos trocados
Arrecadação: 90 toneladas de alimentos não perecíveis
Árbitro: Cleisson Veloso Pereira (MG) Auxiliares: Celso Luiz da Silva e Cinthia Mara da SilvaMotivo: Despedida de Juan Pablo Sorín do futebol.

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Como estou meio diferente hoje, deixo aqui uma carta escrita por Sorin, alguns meses após ter deixado o Cruzeiro, não sem antes ter participado da conquista da taça da copa SUL-MINAS.

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Há quatro meses conquistamos a Copa Sul Minas.
Há quatro meses fui embora do Cruzeiro
O texto abaixo escrevi para mim, porém, senti a necessidade de compartilhá-lo com vocês.
Simplesmente para que saibam a importância que tudo isso tem na minha vida.
Simplesmente para seguirmos juntos, apesar da distancia.
Hoje, estréio em meu novo time.
São muitas as expectativas e as vontades de sempre, mas esperando um dia retornar a minha segunda casa. 15:58 hs – Banderas en tu corazón (Bandeiras no teu coração). Setenta e cinco mil caras esperando ver o Cruzeiro campeão.
Saímos rodeados de mascotes e crianças, que nos acompanham sempre com um sorriso.
Pegamos forte e corremos para o gramado.
Uma olhada rápida, mãos para o alto e as primeiras emoções.
Não é comum e é até anormal muitas camisas argentinas, celestes e brancas, no Brasil todas sentimentalmente distinguíveis.
Chegam as placas de homenagem.
Primeiro, do presidente.
Depois, da Máfia Azul e logo uma camisa inesquecível com o meia dúzia nas costas, assinada por todos os funcionários do clube.
A melhor homenagem, da cozinheira ao roupeiro, os encarregados da limpeza, até meus colegas, médicos, técnicos...
Vale ouro! Vale mais suor, ainda!
Sorteio a moeda da Fifa.
Deu branco e ganhei.
No segundo tempo, atacaremos junto ao grosso da nossa torcida.
Antes de começar toca o hino brasileiro.
Todos cantam e eu não. Procuro minha companheira e concentro-me em silêncio.
Observo a torcida e na arquibancada há uma bandeira argentina.
Que orgulho! Não posso acreditar. Onde estão meus amigos do bairro para contar-lhes? Jogam balões para os céus com meu rosto estampado numa bandeira vertical.
É minha despedida, a parte da final. Contenho as lágrimas, soa o apito. 16h20 - Sarando as feridasMeu Deus! Um choque forte, toco a sobrancelha.
Sangue. Puta que pariu! De novo?
Quarto corte na cabeça em dois anos e meio.
Queria jogar e o juiz reserva "canarinho" disse-me que não!
Quase pede minha substituição e disse-me que há muito sangue.
Peço-lhe, por favor. Hoje, não me deixes de fora, irmão!
Ele não entende bem, mas me permite entrar e lá vou eu como um "papai smurf".
Serão seis pontos no intervalo, 0 a 0, com uma bola na trave e um susto forte. 17h40 - Oh meu pai, eu sou Cruzeiro meu pai... Tira a camisa! Tira a camisa!
Parece uma bola perdida, mas sei que o Ruy vai ganhá-la.
O "cabeção," meu amigo e parceiro de quarto, vai tocá-la por um lado e buscá-la pelo outro (fez uma gaúcha, berra o locutor).
Entra na área e só rola para trás.
Não sei o que faço aí, a não ser confiar nele.
Não sei o que faço senão ir além do sonho da despedida e não há tempo para pensar.
Com três dedos e meio esquisitos de prima, com a sempre canhota bendita e a rede se mexe, é o mundo que explode, vem o delírio, a festa...
Não pode ser real. As cabecinhas que pulam descontroladas, a camisa voando na mão e um grito eterno, inesquecível, uma dança especial. 17h55 - Ah, eu tô maluco!Bicampeão!
Faltam segundos e não existe sensação comparável como a de ser campeão.
Nos olhamos cúmplices com o Cris e rimos da conquista depois do esforço.
Somos irmãos, somos um punhado azul de raça inquebrantável, enquanto o pessoal na arquibancada baila, grita, goza e por fim estoura com o final.
Escuta-se um estrondo inconfundível.
Um abraço, dois, um milhão, a correria perdida, louca, entre pulos, festejos com cada companheiro, Toninho, Valdir, Tita e Bolinha, todos malucos.
De repente um cara me leva nas costas e damos a volta olímpica.
Não quero que isso termine e penso se pudesse parar o tempo nesse instante, mas não posso.
E aí, vou dando-me conta que também é o final para mim, que estou indo embora do meu time, da minha cidade, da minha gente.
Então, vem a enorme emoção e comemoro como sempre, desenfreado, sem limites, como se fosse a última vez.
Comemoro e cumprimento cada canto do maravilhoso Mineirão.
Despeço-me e quero abraçar a todos.
Quero que dêem a volta conosco, quero dizer-lhes que eles não sabem como necessitamos de todos aqui dentro.
Vejo as faixas e ainda não acredito.
Vejo os rostos de alegria e até hoje nada sai da minha mente.
Depois de tudo, a surpresa com a presença de minha mãe exatamente no Dia das Mães e é impossível não chorar. Finalmente, recebo a Copa tão desejada.
É bonito ser capitão.
É grandioso ser capitão do Cruzeiro e ser campeão.
Levantamos a taça, desfrutamos e saímos a oferecer aos milhares que estavam por todas as partes até o cansaço.
Imagino Minas.
Imagino Belo Horizonte.
Tudo se acaba e não podia ser tão perfeito.
Será que sonhei?
Nem um sonho seria tão incrível.
Estou partindo e pensando se algum outro dia serei tão feliz!


Juan Pablo Sorín

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