(tempos de fartura e boleros)
Na ponta da mesa a pele morena, a roupa da lida, as mãos calejadas e limpas, a autoridade, a conjunção dos elementos e o poder do suor. À esquerda a beleza, a conciliação, a arte, a habilidade política e o poder do amor. À direita, em ordem, por idade, a começar por mim, as crias dessa união, e os amigos, satélites usualmente deslumbrados e naturalmente atraídos pela luz daquela harmonia.
Nas panelas: arroz, feijão, couve refogada, suã... Tudo da horta e pelas mãos de Sá Eurides preparados.
O prato com leite e angu... Um ritual: A pilha de pratos esmaldos e fundos, a lata de alumínio e ele servindo, da esquerda para a direita, cada um passando para o próximo, com absoluta dedicação. O tempero de tudo isto – por ridículo que possa parecer – não era o amor, mas o respeito.
Nunca foi fácil, mas houve uma época de mil sacas de café e então ele se deu alguns luxos: Uma semana de férias em Poços de Caldas, uma sela nova e, pioneiro que era, para ela, uma eletrola (nem procurem no dicionário, pois não existe); Um lindíssimo móvel em mogno aconchegando uma parafernália de fios e válvulas que resultavam, em suma, em uma vitrola estereofônica, duas caixas de som, uma de cada extremidade do móvel, e, enfim, som.
Por traz dos eucaliptos o sol havia tingido as nuvens sobre a Serra Negra, a janta recolhida... Então, na sala do meio, a eletrola em 78 RPM, tocando os boleros extraídos dos discos de vinil.
Preferências por preferências a minha infanto/adolescência optava por “aquellos ojos vierdes”, mas, na verdade, olhares de cumplicidade eram trocados entre eles quando Javier Solis cantava Siboney.
Soube muito depois que Siboney, por razão por mim desconhecida – e carece alguma? – era a “música deles”.
A internet me ajuda e é esta a letra de Siboney:
Siboney yo te quiero
yo me muero
por tu amor.
Siboney, en tu boca
la miel puso su dulzor.
Ven aquí que te quiero
y que todo tesoro
eres tú para mí.
Siboney al arrullo de tu alma
pienso en ti.
Siboney de mi sueño
si no oyes la queja de mi voz,
Siboney si no vienes me moriré de amor.
Siboney de mi sueño te espero
con ansia en mi caney.
Siboney si no vienes me moriré de amor.
Oye el eco de mi canto de cristal
no se pierde por el rudo manigual.
Achei "delicioso" saber a música dos dois.
ResponderExcluirMe deu vontade de comer couve,suan e angu feitos pela Sá Orides.Será que ela ainda vive?
Riquíssimo!
ResponderExcluirEstou eu aqui ouvindo tantas versões de Siboney (salve, salve internet!).Ai que saudade que dá!