segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Circo

José Saramago
(Portugal - 1922)


Poeta não é gente, é bicho raro
Que de jaula ou gaiola se escapou
E anda pelo mundo às cabriolas,
Aprendidas no circo que inventou.
Estende no chão a capa que o disfarça,
Faz do peito tambor, e rufa, salta,
É urso bailarino, mono sábio,
Ave de bico torto e pernalta.
Ao fim toca a charanga do poema,
Todo feito de notas arranhadas,
E porque bicho é, bicho ali fica,
A uivar às estrelas desprezadas.

Um comentário:

  1. Ah! Se a poesia que anda por aí soubesse dos poetas que uivam às estrelas desprezadas e se essas soubessem decifrar os uivos... que mundo teríamos?
    És, com certeza, o assinalado!

    ResponderExcluir