quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Um copo de cólera

[...]já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo desse bem comum, piedosamente, meu quinhão; já foi o tempo em que consentia num contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo no que me era vital, já foi tempo em que reconhecia a existência escandalosa de imaginados valores, coluna vertebral de toda "ordem"; mas não tive sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora as minhas preocupações, é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafurdio - definitivamente fora de foco - cedo ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que vive paparicando as ciências humanas,nem suspeita que paparica uma piada:impossível ordenar o mundo dos valores, ninguém arruma a casa do capeta:me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito, seja o amor, a amizade, a família, a igreja, a humanidade;me lixo com tudo isso!me apavora ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi consciente que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes indiferentes[...]
Raduan Nassar

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