Quase Natal. Noite ainda. Quase dia,lá, no distante dos olhos. Nem bem dia, nem bom dia .E tão noite ainda,os guinchos estridentes de um porco imolado arrepiavam, teciam mortalha nos ouvidos ainda sonolentos. E os guinchos em desespero, esmolavam um pouquinho mais da noite, uma hóstia do sono repousado dos vivos. E os guinchos alfinetantes acordavam almas em sossego. Maria bem que tentara abafar o que implora. O travesseiro ralinho, um nadinha, não era parede para tanta agonia. Agonia maior se doer onde não dói a dor alheia.. Não podia ter dó. Não podia ter dó! A dó (porque é sempre feminina) pede morte lenta. Martírio pro bicho. Quem disse?O de seis dedos na mão direita?Temperinho suado no leite das crianças? Mas como ignorar?Como não desesperar? Aquela selvageria lhe contorcia o estômago, secava a boca, disparava o coração,vomitava o que era. O berro do capado não findava, agulhava. Não podia ter dó!Mas como, se Maria, ela própria, era também oferta adiada.Pelo suplício do animal, hoje quem executava a morte não era o bom nisso. Outro o fazia e Maria pressentia que aquela suposta inabilidade era a satisfação de um prazer medonho. Vingança anunciada. Pai ficava aborrecido, não gostava de ver judiar da criação. Ah,não! Depois, ainda no antes do dia, o silêncio. O silêncio mais aterrador que os berros. Depois, a fogueira acendeu o dia. Crepitando, aplaudiu a morte. Um cheiro de palha queimada, de pele tostada, um cheiro invadindo toda fazenda, narcotizando todo pesar.
A casa amanhecera em polvorosa, muito que fazer,divertia-se Papai. Muito que preparar,afligia-se Mamãe.
Molemente Maria levantou,tentara se apressar sem saber pra quê. Outros lhe pediam a presteza que a ela não cabia. No terreiro, ali ,no tão pertinho dos olhos,é dia já hoje, diahoje. Em passos apressados, espantando o que é leseira, quase tromba com os camaradas que traziam nos ombros as bandas do porco imolado .Esgueirou-se arrepiada. Estarrecida olhou o resto silencioso do que foi grito. Corrompia-lhe o espírito olhar a gordura desbeiçada, as gotas de sangue que trilhavam as pedras: matar, arrumar, cozinhar, comer a vítima. A carne era boa.
Na casinha do forno, um bando de mulheres movia de um lado para o outro .Nas gamelas, a massa da rosca era sovada, batida e nas mãos ligeiras,crescia, amaciava,expandia olhos, cheirava gostoso. Na imensa mesa de madeira, embrulhavam nas folhas de bananeira as pamonhas, essas iam para o forno da cozinha de dentro. Forno mais quente. Delicadamente, habilidosamente, Francisca enrolava os biscoitos. Maria tentou fazer o mesmo, mas suas mãos pesadas amassavam o polvilho, desfiguravam o biscoitinho, que grudava, que sujava, que irritava.
Na casinha do meio, outras gentes arrumavam o porco. Maria ouvia o barulho do machado repartindo as partes, Maria via os cachorros chegando à porta, famintos por um naco.
-Sai, Bandoleiro. Seu almoço é fubá e água. Tá se fazendo de importante hoje?
-Não tem Papai Noel pra bicho -escorraçou Passarinho
-Nem pra camarada. –debochou Antônio.
-Nem pra filho torto- revidou Passarinho.
A massa do biscoito mal saía da mão de Maria, era uma lambança. Quanto mais caprichava, mais se lambrecava. Não tinha talento, não tinha destreza. Inventou uma desculpa qualquer e abandonou o serviço.
Amanhã seria Natal.
A casa amanhecera em polvorosa, muito que fazer,divertia-se Papai. Muito que preparar,afligia-se Mamãe.
Molemente Maria levantou,tentara se apressar sem saber pra quê. Outros lhe pediam a presteza que a ela não cabia. No terreiro, ali ,no tão pertinho dos olhos,é dia já hoje, diahoje. Em passos apressados, espantando o que é leseira, quase tromba com os camaradas que traziam nos ombros as bandas do porco imolado .Esgueirou-se arrepiada. Estarrecida olhou o resto silencioso do que foi grito. Corrompia-lhe o espírito olhar a gordura desbeiçada, as gotas de sangue que trilhavam as pedras: matar, arrumar, cozinhar, comer a vítima. A carne era boa.
Na casinha do forno, um bando de mulheres movia de um lado para o outro .Nas gamelas, a massa da rosca era sovada, batida e nas mãos ligeiras,crescia, amaciava,expandia olhos, cheirava gostoso. Na imensa mesa de madeira, embrulhavam nas folhas de bananeira as pamonhas, essas iam para o forno da cozinha de dentro. Forno mais quente. Delicadamente, habilidosamente, Francisca enrolava os biscoitos. Maria tentou fazer o mesmo, mas suas mãos pesadas amassavam o polvilho, desfiguravam o biscoitinho, que grudava, que sujava, que irritava.
Na casinha do meio, outras gentes arrumavam o porco. Maria ouvia o barulho do machado repartindo as partes, Maria via os cachorros chegando à porta, famintos por um naco.
-Sai, Bandoleiro. Seu almoço é fubá e água. Tá se fazendo de importante hoje?
-Não tem Papai Noel pra bicho -escorraçou Passarinho
-Nem pra camarada. –debochou Antônio.
-Nem pra filho torto- revidou Passarinho.
A massa do biscoito mal saía da mão de Maria, era uma lambança. Quanto mais caprichava, mais se lambrecava. Não tinha talento, não tinha destreza. Inventou uma desculpa qualquer e abandonou o serviço.
Amanhã seria Natal.
Belas recordações.....
ResponderExcluirRose
Tenso, muito tenso... Mas belo!
ResponderExcluirTenso... Intenso... Excelente!
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