(A pedido do Tito)
Ela está sentada na varanda. Não na varanda da sala que não é varanda, mas alpendre, ela está sentada na varanda da cozinha. Já é tardezinha. No verão os dias se alongam e a janta, algumas vezes, lhe parece ter sido tão cedo... O caçula, ainda neném de colo, já dorme. Os outros cinco estão espalhados por perto. Se sente tão feliz! Ele foi dar mais uma volta pelas cercanias, checar se porteiras, portões da cocheira, portas das tulhas estavam fechadas... Estavam, como sempre, fechadas, mas ele sempre, todas as tardes, com sua inseparável foice, checava. Logo voltaria. As empregadas já tinham lavado panelas e louças e tomado o rumo de casa, as crianças já tinham tomado banho – tinha que cuidar para que não desembestassem terreiro afora, enlameado pela chuva forte de há pouco. Essas crianças! O terceiro então... Mas ele cuidara do fogo no fogão a lenha garantindo que a serpentina mantivesse quente a água de seu banho. Estes cuidados, mimos singelos, são alguns dos motivos que a faz se sentir tão feliz. Especialmente nesta data.
Afastou uma mecha de cabelo que caia sobre seu olho direito e entrou. Ele já tinha voltado e aberto a válvula do tanque – as crianças diziam ser piscina – ligando a usina, e liberando energia para uma fraca luz brotar do forro do teto. De qualquer forma, verificou se lamparinas e velas estavam à mão... Esta usina! Para um sapo entupir o tubo ou o jacaré da correia se abrir, custava pouco. Melhor prevenir. Do seu quarto ouviu os seus passos ecoar no piso de tábua-corrida enquanto andava fechando as janelas da casa... Tantas janelas! Para quem tinha começado a vida de casados numa casinha de colono, tinham evoluído bastante. Fizeram por onde... Os dois. Mereciam. No banheiro, enquanto a banheira não enchia, avaliou-se ao espelho. Espelho acanhado, sobre o lavatório, não ajudava muito, mas sentiu-se bela, como de fato era, jovem e bela, ainda que com seis filhos já paridos. Gostaria que seu pai ainda fosse vivo. Ele que pouco fez de seu marido, justo como era, de certo reconheceria hoje o seu valor. Homem trabalhador, rigoroso, amoroso, com ela e com os filhos... Bom marido. Sentiria orgulho dela também. Foi forte e ajudou na educação, não apenas dos filhos, mas também dele. Se Deus quiser, fariam muitos doutores e se Deus a ajudasse mais, até um padre.
Gostaria de ter uma colônia... Fazer o que? Nesta roça, sem ressentimentos, difícil ter cheiros que não sejam os das flores das laranjeiras, dos cafezais e de suas rosas. Mas uma colônia, daquelas dos seus tempos de internato em Andrelândia... Aí, meu Deus, como lhes fariam bem! Afinal, hoje era 26 de fevereiro e eles completavam quinze anos de casados.
Encontraremos forças no que ficou pra trás!
ResponderExcluirnossa, tio. enchi o olho d'água. voltei onde nunca estive. que coisa!
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