Ranking Playboy da cachaça
Cada vez mais, o Brasil deixa de ser o único país do mundo a se envergonhar do seu destilado. A boa e velha cachaça há muito deixou de ser uma bebida sem valor. Hoje é apreciada em confrarias, tem admiradores mundo afora e já conta com legislação específica. Fatores que, combinados, impulsionam um mercado promissor, com lucro de até 600 milhões de dólares ao ano.São mais de 5 mil marcas de cachaça legalizadas no Brasil e uma produção de cerca de 1,4 bilhão de litros ao ano. Nessa conta estão desde cachaças artesanais que levam anos para ficarem prontas e podem custar até 500 reais a garrafa, até pingas industriais produzidas em algumas horas e vendidas a 2 ou 3 reais. Um abismo não só de preço, mas principalmente de qualidade. Dizer qual cachaça tem sabor mais intenso, melhor buquê, melhor aroma e, em especial, qual realmente vale o que se paga por um vinho importado (embora raramente custe tanto) não é tarefa simples. Por isso, reunimos 13 experts no assunto e pedimos que eles votassem nas melhores cachaças do Brasil. Apurada a votação, levamos o químico especialista em destilados Erwin Weimann, autor do livro Cachaça: a Bebida Brasileira, à Universidade da Cachaça, em São Paulo, onde, ao lado do chef Sérgio Arno, dono da casa, ele degustou e comentou cada uma das 20 escolhidas. Confira aqui quais são, segundo os bons entendedores, as melhores aguardentes do país.
20º Lugar Volúpia
Procedência: Alagoa Grande, PB. Graduação alcoólica: 42% Envelhecimento: descansada um ano em freijó. Bebida de sabor forte e bastante pronunciado, a paraibana Volúpia é uma das duas representantes das cachaças nordestinas na votação dos especialistas. É descansada em freijó, uma madeira típica do Nordeste, raramente usada por outros produtores e que pouco interfere na bebida, o que explica a cor branca dessa aguardente.
19º Lugar GRM
Procedência: Araguari, MG; Graduação alcoólica: 41%; Envelhecimento: dois anos em carvalho, umburana e jequitibá-rosa. Cachaça envelhecida de excelente equilíbrio e harmonia. A combinação de três madeiras suaviza a força da umburana e proporciona um sabor palatável, puxado para o amargo.
18º Lugar Seleta
Procedência: Salinas, MG; Graduação alcoólica: 42%; Envelhecimento: dois anos em umburana.
Envelhecida em umburana, a Seleta é um bom exemplo da presença dessa madeira, que empresta um gosto acre, forte e persistente por muito tempo. Recomendada aos que gostam de sabores intensos.
17º Lugar Abaíra
Procedência: Chapada Diamantina, BA; Graduação alcoólica: 42%; Envelhecimento: três anos em carvalho. Límpida e brilhante, com aroma suave. Nela prevalece o carvalho, que virou um símbolo de qualidade entre destilados, por causa dos uisques e conhaques.
16º Lugar Lua Cheia
Procedência: Salinas, MG; Graduação alcoólica: 45%; Envelhecimento: entre dois e três anos em bálsamo. Das mais típicas de Salinas. O bálsamo confere a ela uma cor dourada e cintilante, além de trazer um sabor amadeirado e levemente apimentado.
15º Lugar Mato Dentro
Procedência: São Luiz do Paraitinga, SP; Graduação alcoólica: 41%; Envelhecimento: descansada oito meses em amendoim. Na variação Prata, a escolhida pelos votantes, ela é envelhecida em tonéis de amendoim, uma madeira neutra, que interfere pouco na aguardente, e dá coloração límpida. Tem sabor e aroma delicados, próximos da cana. Quase com "cheiro de roça".
14º Lugar Corisco
Procedência: Parati, RJ; Graduação alcoólica: 45%; Envelhecimento: dois anos em carvalho
"É uma cachaça jovem, que ainda precisa envelhecer", afirmam nossos conhecedores. A combinação de muito álcool e pouco envelhecimento, característica das cachaças de Parati, resulta numa bebida forte e picante. Boa representante das pingas da região.
13º Lugar Sapucaia Velha
Procedência: Pindamonhangaba, SP; Graduação alcoólica: 40,5%; Envelhecimento: dez anos em carvalho. É do envelhecimento no carvalho que vem o sabor e o buquê acentuados. Criada em 1930, tem fama de ser produzida com extremo cuidado.
12º Lugar Indaiazinha
Procedência: Salinas, MG; Graduação alcoólica: 48%; Envelhecimento: oito anos em bálsamo. De cor dourada, passa por longo envelhecimento no bálsamo, o que dá a ela um sabor ligeiramente semelhante ao de amêndoa. "Para se beber de joelhos", diz Weimann.
11º Lugar Maria Izabel
Procedência: Parati, RJ; Graduação alcoólica: 44% (o rótulo indica, erroneamente, 42%); Envelhecimento: entre um e quatro anos em carvalho. Suave, agradável, de baixa acidez. Aroma e sabor lembram a cana. Se destaca entre as cachaças de Parati pelo esmero da produtora e pelo uso do carvalho.
10º Lugar Piragibana
Procedência: Salinas, MG; Graduação alcoólica: 47%; Envelhecimento: 22 anos em bálsamo e carvalho. A Piragibana é harmônica, com sabor e aroma persistentes, ainda que delicados - resultado do longuíssimo envelhecimento em bálsamo e carvalho. Caso típico de influência da combinação de madeiras, aqui escolhidas por Juventino Miranda, o produtor.
9º Lugar Magnífica
Procedência: Miguel Pereira, RJ; Graduação alcoólica: 45%; Envelhecimento: três anos em carvalho. Uma cachaça equilibrada. Apesar dos 45% de graduação alcoólica, a Magnífica é uma bebida suave, que desce fácil e apresenta buquê simples de cana jovem. Sua cor límpida é mais um destaque.
8º Lugar Armazém Vieira
Procedência: Florianópolis, SC; Graduação alcoólica: 44%; Envelhecimento: quatro anos em ariribá. O ariribá, madeira do litoral catarinense pouco usada no armazenamento de cachaças, tem interferência mínima na bebida e permite que ela envelheça sem afetar o gosto da cana. Desce macia, segundo os especialistas, pois o frescor da cana equilibra bem com a madeira.
7º Lugar Casa Bucco
Procedência: Passo Velho, RS; Graduação alcoólica: 40%; Envelhecimento: dois anos em bálsamo e carvalho. Seu aroma e o sabor de carvalho são persistentes e lembram um bom brandy. É ácida e um pouco forte, sabores típicos de um terroir com pH elevado. Para quem gosta de carvalho e de tudo o que a madeira empresta à bebida.
6º Lugar Boazinha
Procedência: Salinas, MG; Graduação alcoólica: 42%; Envelhecimento: dois anos em bálsamo. Cor brilhante e viscosidade perfeita, com forte presença do bálsamo no aroma e no sabor, que persistem longamente. A Boazinha é uma clássica representante de Salinas, por causa da influência da madeira: cor bem amarelada e sabor marcante.
5º Lugar Claudionor
Procedência: Januária, MG; Graduação alcoólica: 48%; Envelhecimento: entre um e meio e dois anos em carvalho. A cidade de Januária já foi sinônimo da bebida, mas perdeu a vez para Salinas como região emblemática da cachaça mineira. A Claudionor, porém, é ótima opção para quem gosta de cachaça à moda antiga, forte, com muito gosto de cana. Para adequar-se à nova legislação, teve de reduzir seus 54% de graduação alcoólica para "apenas" 48%. Transparente, apesar de bem envelhecida, Claudionor tem buquê neutro, de cana madura e bem descansada, cujo gosto persiste na boca. É uma cachaça com corpo, equilibrada, perfeita para quem foge das madeiras.
4º Lugar Germana
Procedência: Nova União, MG; Graduação alcoólica: 40%; Envelhecimento: dois anos em carvalho e bálsamo. Facilmente reconhecida numa prateleira devido à embalagem, a garrafa da Germana é toda revestida de folhas secas de bananeira por mulheres artesãs do Engenho de Nova União. O objetivo é proteger a bebida da luz e do calor e assim manter suas características. Antes de ser engarrafada, a Germana envelhece dois anos em tonéis de carvalho e bálsamo. O resultado é uma cachaça suave, com sabor sutil, que pode agradar também ao público leigo.
3º Lugar Canarinha
Procedência: Salinas, MG; Graduação alcoólica: 44%; Envelhecimento: três anos em bálsamo. A procedência e o sobrenome do produtor são belas credenciais. Produzida em Salinas, a Canarinha é feita por Noé Santiago, sobrinho de Anísio Santiago, criador da famosa cachaça Havana (veja abaixo). Antes de ser embalada nas tradicionais garrafas de cerveja, ela é envelhecida por três anos em tonéis de bálsamo, o que lhe confere uma cor suave, amarelinha, e um sabor levemente apimentado, típico das aguardentes de Salinas. Para Weimann, a cor dourada como um champagne, o sabor frutado e o buquê de flores do campo e capim fazem a diferença. "É uma cachaça das mais puras, equilibrada, persistente e excelente", garante Weimann.
2º Lugar Anísio Santiago
Procedência: Salinas, MG; Graduação alcoólica: 44,8%; Envelhecimento: entre seis e oito anos em carvalho e bálsamo. Anísio Santiago é mais que uma cachaça - é um mito. Forte, com cheiro de madeira seca, um leve amargor que permanece na boca, sabor e aroma persistentes. "O segredo de Anísio é a combinação de madeiras diversas. Não é perfeita, é mais uma boa cachaça, um ícone a ser reverenciado", diz Weimann. E que se tornou mitológica devido a uma questão judicial: a Havana perdeu o nome e foi rebatizada como Anísio Santiago. Hoje, uma garrafa antiga de Havana chega a custar mais de 20 mil reais. "É o marketing 'cubano': 'a gente faz por gosto, dane-se o mercado, quem quiser que corra atrás'. Ainda que haja uma dúzia de cachaças tão boas quanto ela por 10% do preço", diz o jornalista Ronaldo Ribeiro, autor de várias reportagens sobre a Havana. O preço de uma Anísio Santiago varia bastante, podendo custar entre 200 e 300 reais em São Paulo. "A expectativa é tão grande que, ao provar, no primeiro gole você já está fascinado", garante Ribeiro. Tal é o sabor de uma boa história.
1º Lugar Vale Verde
Procedência: Betim, MG; Graduação alcoólica: 40%; Envelhecimento: três anos em carvalho. A campeã é uma cachaça correta em todos os sentidos. É produzida na fazenda Vale Verde que, além de engenho de cachaça, é também um parque ecológico, com visitas guiadas onde se podem conhecer os "segredos" da produção. A aguardente é equilibrada, encorpada e madura. Segundo os produtores, suas técnicas de fermentação e destilação foram baseadas naquelas praticadas na Europa para fabricação de whiskies. Isso proporciona um produto final equilibrado, estável, pronto. Os três anos em tonéis de carvalho explicam a cor dourada e o buquê marcante de madeira. É justamente esse envelhecimento que garante o equilíbrio da bebida, que desce redondinha, sem aspereza. A cana colhida no ponto certo, fruto dos solos calcários da região de Betim, a fermentação nos antigos alambiques de cobre e a criteriosa escolha dos barris de carvalho garantem a cor brilhante e o sabor adocicado persistente. Além disso, a Vale Verde tem a melhor relação custo-benefício.
Bão... Taí o ranking das cachaças.
Agora e só sair experimentando pra ver se é isso mesmo.
Juizo Ferreirada!
Para vocês morrerem de inveja.Fui agraciado pelo Colelo com a cachaça Vale Verde, primeirona no ranking.
ResponderExcluirBeijos
Tarlei
Quem vai morrer de inveja é a Ana Lúcia, não acha?
ResponderExcluirColelo fala da cachaça e eu falo dos efeitos:"o primeiro estágio é o que excita a mente, destrava a língua, transforma o ato de beber em um rito intelectual e social, segundo as regras do convívio socrático (?); o segundo é o que rompe as cadeias da inibição, despedaça as barreiras do autocontrole e, desligando-se do pensamento,leva ao limbo do esquecimento; o terceiro estágio é o que arrasa, conduzindo às planuras imensuráveis do vazio e do ignorado.Um misterioso desaparecimento em si mesmo, um indefinível preciptar-se nos abismos do nada, um repouso absoluto, uma morte temporânea."
Assim falou Panagulis, personagem histórica do livro que estou lendo.Uma obra incrível
Beijos
Bem lembrado, Cocada... Depois do que vi lá em Lavras, acho que a inveja é mesmo da Ana.
ResponderExcluirGostei do tal Panagulis! Caboquinho de responsa... Qual é o livro?
Pensando bem, seria uma boa se você nos desse umas dicas de o que ler, não acha?
Eu hoje estou lendo Mario Vargas Llosa: Elogio da Madastra... Comecei e tô gostando.