quarta-feira, 30 de junho de 2010

Isabela e os Pombos

Domingo. Manhã de muita luz. Caminhamos, eu e minha netinha, pendurada na minha mão direita, no calçadão ensolarado da praia de Ipanema. Vamos quietos, eu carregando meus sessenta e ela a pureza de seus dois aninhos, até que surgiram os pombos...

Dezenas deles! Desceram em revoada, cobrindo de cinza o banco próximo e de espanto minha princesa, que subitamente lançou-se no meu colo. Também vestida de cinza, miúda, franzina, cabelos muito brancos e cuidadosamente enrolados num coque, uma velhinha estendia aos pombos sua mão frágil com um punhado de milho, daí a razão do alvoroço dos pássaros.

Aproximei-me, com minha netinha agarrada ao meu pescoço.

Durante alguns minutos, apenas fiquei ali. Ouvindo o incessante arrulhar e observando a extrema fragilidade da cena. A sensação que me tomou foi de que um único ruído, por mínimo que fosse, seria suficiente para espantar os pombos e fazer desaparecer no ar a bondosa senhora e que, tão logo isto acontecesse, também eu e Isabela seriamos tragados pelo nada, incorporados que estávamos ao cenário.

Ainda assim continuei um pouco mais ali.

Isabela, ainda no meu colo, olhos arregalados, mas já não tão assustados, acompanhava a movimentação dos bicos e asas... E, então, a vovozinha me ofereceu um punhado de milho para que eu alimentasse os pombos na minha mão. Aceitei. Com Isabela no meu colo, estendi meu braço oferecendo as sementes. Vieram aos montes, rodeando nossas cabeças, pousando no meu braço, arrulhando, bicando, engolindo os grãos dourados, para assombro de minha netinha...

Depois de nos desagarrarmos da cena, prosseguimos pelo calçadão até um quiosque e ali, enquanto Isabela bebia a água de um coco, eu pensava na efemeridade dos momentos. Assim como a fragilidade percebida na revoada dos pombos, esta cumplicidade, vovô e netinha, tem asas ligeiras que a levam para onde não sei.

No dia seguinte eu já estaria de volta em Mato Grosso... O que justifica esta ausência?

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