quinta-feira, 23 de junho de 2011

Eram um

E quando penso em ambos

me lembro sempre desse um

que era os dois ao mesmo tempo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Perda


Colhi uma flor do campo para lhe oferecer.
Que arrependimento me deu!
Seus olhos transbordaram amor,
mas o prado se entristeceu
por eu lhe ter roubado a única flor.




***

Por que?

Carlos Drumond de Andrade


Por que nascemos para amar, se vamos morrer?
Por que morrer, se amamos?
Por que falta sentido
ao sentido de viver, amar, morrer?


***

Querido Sobrinho, Thiago

Muito me honram seus comentários deveras airosos sobre minha pessoa. Honrado ainda mais fiquei ao vê-los ratificados por dois herdeiros expoentes da poesia de nosso Ferreira maior. Mas, permita-me, sem falsa modéstia, o contrariar: Sou apenas um “escrevinhador” que faz versos para agradar a si próprio. Duas vezes agradar a si próprio: Uma quando aplaca a sua inquietude – razão pela qual os escreve, outra quando satisfaz a sua vaidade – razão pela qual os divulga. Veja, então, querido sobrinho, um embusteiro, um grandessíssimo trapaceiro, é isso que sou.

Quanto aos aniversários, meu sobrinho, uma vez mais trapaceio. Das distantes terras do Estado de Mato Grosso, busco, de alguma forma, aproximar-me daqueles a quem amo e o faço da maneira mais cômoda que disponho: A internet. Assim, de novo a intenção deve ser vista como um ato de absoluto egoísmo...

Concorda?


***

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Passará

Passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.

Tem nome de ninguém.
Não faz ruído. Não fala.
Mas passa com a sua fina faca.

Fecha feridas, é ungüento.
Mas pode abrir a tua mágoa
Com a sua fina faca.

Estanca ventura e voz
Silêncio e desventura.
Imóvel
Garrote
Algoz

No corpo da tua água passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.
(Hilda Hilst, Da morte. Odes mínimas. São Paulo: Globo, 2003, p. 72).

Como não olhar esse crepúsculo infindo dourando o distante sem lembrar que hoje faz dois anos que mamãe se foi para sua lua de mel eterna? Como não sentir esse aperto no peito?Essa saudade daqueles únicos dois?

domingo, 19 de junho de 2011

Ao tio poeta


de aniversários fervoroso


entusiasta das letras


mais que um comentário


um bravo (bravíssimo!)


em verso livre


já que livre é o verbo

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Monastério


Eventualmente venta...
Desfaz-se o invólucro
e a transparência se apresenta,
muda e sedenta,
a meia luz do por de sol.

Ninguém se importa,
são apenas mágoas
sem qualquer relevância
que atravessaram a porta.
Riacho cruzando o quintal.
Roupas quarando no varal,
imaculadas e puras,
como o dia que amanhece
sem pecados ou culpas.

Consternação de monge,
só, sem seus infiéis,
desvalido no entardecer,
desiludido com Deus e a ciência.

Um último trago,
enevoando mais o olhar vago,
garantindo à tristeza,
a sua sobrevivência.


***

Crisálidas





Nua,
olhavas para mim como se para uma flor,
talvez para um frágil cristal ou algo assim,
e eu, para mim:
Melhor lua!
Porém nem eu lua, nem tu sol,
apenas estrelas,
cuja grandeza,
compete-nos descobrir.

E se flor,
margarida ou girassol?
Ficamos com a cor e o perfume,
apenas perfume e cor,
além de ti, além de mim, além de todos
apenas eu e você....

Crisálidas enovelando
cheiro e cor.


***

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Traz outra...

Faremos o seguinte...

- Tá faltando álcool... Mais uma!

Tem filho da puta para tudo quanto é lado. Porém não nós... Não até então, mas duvido que alguém resista à troca de uma moeda de vintém por uma nota de cem. Duvido sequer que vá questionar a origem do papel... Por dinheiro, já vi muita gente boa virar filho da puta! Até o Santo Papa. Não tô falando? Aquele Papa, aprendi isso quando me meti a coroinha por conta de uma pirralha, um tal de Borge, Borja... Sei lá eu! O tal de santo não tinha nada, só amantes, filhos e maracutaias.

Mas faremos o seguinte...

- Traz outra!

Conheço um pastor – o filho da puta nem sabe escrever, mas relincha como um cavalo de raça – que tá enchendo as burras com o dinheiro das burras. Pior, burras, iletradas e crédulas. Deus existe e castiga. Mais castiga do que existe e delas, as irmãs, toma até o que não têm. A Zenilda, por exemplo, vendeu uma televisão velha, o bujão de gás e até empréstimo com agiota tomou para servir a Deus... Agora pena sem o remédio para cuidar daquela ferida horrorosa na perna inchada e quase sem ter o que comer, mas não perde a fé... E o pastor se enchendo, e nós aqui tomando cachaça no boteco. Mas o pastor não. O pastor toma vinho importado, que não é besta de repassar o que recebeu em nome de Deus. É ou não é um filho da puta? Não tô falando?

- Agora traz outra... Da brava!

Tem um Secretário, você sabe de quem tô falando, ele mesmo, o Finca-faca, o Secretário de Obras, o puto mal escreve o nome, mas de bobo não tem nada! Tá certo que é corno, mas não é bobo não. Tá na conta daquele empreiteirinho mequetrefe que ganha tudo quanto é licitação no município. Sabe como é: Uma comissãozinha aqui, uma propinazinha ali, um cala-boca acolá... A última foi a da reforma do asfalto da avenida do cemitério, e não é que a Mequetrefe ganhou! Deu no que deu. Assentou lá um farelo de piche que a primeira chuva levou tudinho, tudinho, e hoje tá lá a desobra, nem seis meses desde a inauguração e tá difícil achar asfalto no meio de tanto buraco. Mas o mequetrefe enricou e o Finca num tá feio não! Corno, mas o que se há de fazer? Tudo tem um preço, não é mesmo?

Mas faremos o seguinte...

Ou fundamos uma igreja, ou nos filiamos a um partido.

Mas o que o que, filho de Deus? Nós não somos filhos da puta, nós só bebemos e falamos demais...

- Por falar nisso, traz outra!


***