quinta-feira, 28 de junho de 2012

Belo Monte, anúncio de uma Guerra!"






Recebi, via e-mail, enviado pelo Guilherme Puccini, filho de grandes amigos nossos e vizinhos em Volta Redonda, o texto e os links abaixo.

Vale a muito assistir o filme e daí tirar as suas próprias conclusões!



Segue o documentário “Belo Monte, Anúncio de Uma Guerra“, filme independente sobre a construção da controversa Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. O documentário foi dirigido por André D’Elia e patrocinado por “crowdsourcing”, precisamente 3429 apoiadores que contribuiram usando o sistema Catarse. É um filme necessário para nosso esclarecimento, com 1h44min de depoimentos e gravações com líderes e pessoas das comunidades locais e diversas figuras envolvidas no processo, de políticos a caciques, de ambientalistas a retirantes em busca de emprego. E principalmente com índios, os habitantes originais dessa terra, os atuais moradores das margens do Rio Xingu, onde a Belo Monte e provavelmente outras usinas estão prestes a ser construídas.

sábado, 23 de junho de 2012

Diálogo bobo (e desnecessário)

Tens uma casa rica?
Tenho.
Tenho eu uma choupana, um choupo e uma bica.

Tens um carro?
Tenho.
Não um, mas dois,
e se for de meu querer,
três ou quatro,
ou mais...

Tenho eu um carro de bois,
é tudo, e de fato,
não tenho carência de mais.

Tens esposa, filhos e filhas?
Uma família?
Tenho...
Estão por aí.

Tenho eu esposa, filhos e filhas,
uma família,
e estão aqui,
eles, ela e eu, todos eles
e nós dois...

Ah tenha dó!
Juntos, comendo feijão e arroz,
felizes como só!

***

Chuva


Chovia,
mas não era chuva de chuva,
chuva de menino,
de enxurrada,
de barco de papel,
ao leu...

Chovia,
mas não era chuva de enchente,
chuva de roça,
chuva criadeira,
chuva de flor e plantação...


Chovia lua.
chuva de luz de lua...

Chovia chuva de lua,
sobre os desabrigados,
os deserdados de amor.

Sem eira, nem beira,
useira e vezeira,
a saudade tomou parte,
e, na falta de arte,
sucumbiu,
sob a lua que a dizimou.

Chovia,
choveu lua e saudade.


***

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Eu "me Acho"




(pra Nanda e pra Gabi)


Estava no facebook, registrado por uma amiga, Marizete.



Me dei conta que tinha muito a ver com o que andamos falando durante nosso inesquecível (insuperável?) passeio por terras europeias.


"Dizem que eu "me acho"... Estão certíssimos!
Eu me acho porque eu me busco constantemente. Eu me procuro e me encontro. As vezes inteiro, as vezes aos pedaços, mas vivo, por entre todos os meus dias".


Acho que me definiu. Sou assim, muito assim, um gladiador.

Se não invencível, imbatível... Eu me acho!


***

domingo, 17 de junho de 2012

Sugestão da LU


Essa foto, que agora abre o blog, foi capturada na Chapada dos Guimarães, em MT, por sugestão da Luciana.

O fotografo pode não ser bom, mas a companhia e a inspiração foram dez!!!!


***

Donzela

Papai tinha um bom gado. Um gado mestiço, meio caipira, mas bom. Vacas que enchiam um balde de oito, dez litros e algumas que até meiavam outro, na ordenha da manhã. Naquela época, as vacas tinham nome e não matriculas. Memória, capoeira, garota, mocinha, chatinha, barbela, moura, castipla... E era abrir o bezerreiro e chamar: Tulipa, tulipa... e lá vinha a cria da tulipa. Era, então, amarrar e ordenhar, cerca de cinquenta ou sessenta vacas que enchiam cerca de oito ou dez latões de cinquenta litros.

Nas férias estávamos lá. Na lida. Amarrando vacas e bezerros, ajudando Zé Tunico, Passarinho e Dorgino a ordenhar. Papai no controle. Ordenhando e enchendo os copos da criançada mais folgada.

E tinha a donzela. Uma vaca mestiça de zebu, preta, da barbela moura e brava como o coisa ruim.

Aconteceu de a donzela parir numa férias de julho, logo acima do curral. Pensa numa vaca recém parida brava, muito brava. Pois é, donzela era mais. E fomos, eu e papai, tocar vaca e cria para o rancho. Enquanto papai abria a porteira, fui eu, munido com uma vara de bambu, tocar  a vaquinha para o cercado. No que futuquei, o bezerrinho fez:

- Beeee!!!

E a belezinha partiu para cima de mim. Fiz o que urgia ser ser feito, vazei! Corri e deslizei por baixo da cerca de arame farpado, enquanto ouvia meu pai gritar:

- Ôh, seu merda! Num dá conta não?

Meu sangue ferveu. Mais rápido que rastejei fugindo, rastejei de volta, e rachei o bambu no cocuruto da merdinha, enquanto ouvia papai gritar:

- Ôh, seu merda, foge daí. Essa  vaca te mata...


***

sábado, 16 de junho de 2012

Jogo de damas

Jogávamos, eu e papai, e estávamos sós em Paulo Freitas, apenas eu e ele, naquela casa enorme, naquela mesa enorme. Já háviamos jantado o arroz e o feijão que ele havia esquentado e já haviamos selecionado e despolpado quilos e quilos de goiabas, que, no dia seguinte, Sá Orides transformaria em goiabada, muita goiabada, a melhor goiabada do mundo.
Já era tarde, passava das oito horas da noite. Eu cansado. O dia inteiro, cavalo e latão, colhendo , e disputando com os maribondos as frutas dos pastos de Dona Chanica, Valdemarzinho e Quinca.
Mas queria aprender jogar damas.
Jogamos até lá pelas  dez horas.
No final de dez ou vinte partidas, após perder não sei quantas, ele deixou e eu destrui todas suas damas.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

domingo, 10 de junho de 2012


Estranhos Inalteráveis

No cárcere de mim
estou livre de tudo;
na caça sem fim
é de mim que me nutro.

Pois em tudo há o limite de si,
que quando transposto já é outro.
E só se existe quando o é aqui,
que lá se avulta o ignoto.

Assim, tudo e todos
são estranhos inalteráveis
e acima dos engodos,
dos hipócritas conciliáveis,
reina o vazio absorto,
natimorto de tumbas insondáveis,
a fantasia no claustro do corpo,
e todas as pulsões abomináveis.

Lucas

sábado, 9 de junho de 2012

Natureza morta.

Queres o que?

O mundo que sobre ti desaba
é o mundo que criaste.

Queres o que?

Se antes prado, hoje lodo.
Se antes verdade, hoje engodo.
Se antes amizade, hoje traição.
Se antes amor, hoje paixão.

Queres o que?

Reclamas do que?

O mundo é você.

Construiste essa desgraça,
e ela agora te abraça,
absoluta, resoluta e nua,
uma cria, uma filha tua.

Queres o que?

Nada a reclamar?
Resta a ti resignar?
Resta a ti Peidar?

Queres o que?

Destruiste?

Reconstrua,
saia de sua rua,
ame além de tua família,
ame mais,
escape de tua ilha.

Queres o que?

Depende de você.

Idoso

Na casa dos sessenta
o que agora sei, de aprendizado,
mais útil me seria
quando eu era ainda iletrado.

Hoje, doutor, dito cátedra.
A mente voa universo a fora,
mas o corpo, envelhecido, maltrata,
o desejo titubeia, a vontade ignora.

Na casa dos sessenta,
deveria eu apassentar a alma,
o dia, passo a passo, a vida lenta, lenta,
as horas, horas e horas, vazias e calmas.

Mas meu pai, ou minha mãe, ou ambos,
não me ensinaram assim.
A vontade é ferrenha, e, pobre de de mim,
ainda me enriquecem os tombos.

(No mínimo, tento...)

***

Rodeio


(Foto capturada na internet)

Por engano, na ponta do laço
arrochei uma estrela orvalhada,
desgarrada,
alada...

Perdeu-se nos braços meus,
me perdi nos braços seus.

Vaqueiro que sou.

A acolhi,
sorvi sua luz,
sua essência,
luminescência,
e me ofusquei,
e me afoguei,
e a afoguei.

Vaqueiro que sou.

A deixei estrela,
estendida na esteira,
sem eira nem beira,
brilhante a sorrir...

E rumo ao nada, segui.

***

Decálogo e mais um conselho, para escritores principiantes.

Juan Carlos Onetti


I. Não busque ser original. Ser diferente é inevitável quando não se importa em sê-lo.

II. Não tente impressionar o burguês. Isso não adianta. Ele só se assusta quando lhe ameaçam os bolsos.

III. Não tente complicar o leitor, nem buscar ou reclamar sua ajuda.

IV. Nunca escreva pensando na crítica, em amigos ou parentes, na doce namorada ou esposa. Nem sequer no leitor hipotético.

V. Não sacrifique a sinceridade literária a nada. Nem à política, nem ao triunfo. Escreva sempre a esse outro, silencioso e impecável, que levamos dentro e que é impossível enganar.

VI. Não siga modas, renegue do mestre sagrado antes do terceiro canto do galo.

VII. Não se limite a ler os clássicos. Proust e Joyce foram depreciados quando mostraram o nariz, hoje são gênios.

VIII. Não esqueça a frase, justamente famosa: dois mais dois são quatro; mas e se fossem cinco?

IX. Não desdenhe de temas com narrativas incomuns, qualquer que seja sua origem. Roubada se necessário.

X. Minta sempre.

XI. Não esqueça o que Hemingway escreveu: "Até mesmo trechos de leituras já prontas de meus romances, vem a ser o mais baixo que um escritor pode cair".


Natureza









 Essa poesia eu descobri, já há bastante tempo, num rascunho do Tarlei. Gostei tanto que, inspirado nela, inseri versos meus. Depois achei que seria muita intromissão e a deixei como racunho e lá ficaram escondidos os versos do maninho e os meus, até que Tarlei me ligou dizendo que tinha gostado demais (palavras dele) da minha intromissão... Então, aí estão os versos.



(foto obtida do Rio Paraguai - Região de Cáceres / MT)



Eu e ela
sempre tivemos
uma relação diferente
uma aquarela harmoniosa
que sempre está presente

Eu e Ela... Ela e eu...
Inter_ação.
Tato, contato, seu e meu,
estômago, coração...
Ela e eu... Eu e ela...
Aquarela,
Ela,
Eu,
Meu Deus!

Mesmo quando distante
na cidade grande
eu descobria
num instante
teus olhos
numa estrela fortuita


Nos encontramos sempre.
Eu a descubro e ela descobre eu,
sempre:
Num grilo que canta no asfalto,
sob o salto
de dezenas,
numa açucena
que brota numa frincha,
num canário que trinca
numa palmeira do presídio
num regato cristalino
que escoa desde a serra,
no pé rachado do menino...
Só não na guerra!


Quando envolvido
pela solidão
dava um jeito
de me aconchegar
nas sombras
de teus braços engalhados
nas tuas veias
de vertentes,córregos e riachos
matava minha sede

Aplaca minha sede
com o sangue de suas veias
- córregos, ribeirões, riachos,
despencando das vertentes.
Rede
de galhos, folhas e teias,
aconchegando eu e o "diacho",
instigando eu e salvando meus dentes.

No teu colchão
de capim do campo
perfumado com flores
eu acalentava
meus sonhos
meus medos
meus sentimentos escondidos

Pudesse, faria sexo...
Seria incesto...
O campo - colchão ondulando ao vento.
As flores: Perfume e acalento.
Meus medos sepultados
abaixo das raizes,
meus delizes
enovelados no alecrim.
Eu e Ela... Ela e eu... 
Assim... Sempre assim.

 ***

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Festa

Festa
eu criança
Lucinda moça
nós dois sorrindo
brincando

Valeu sim
comemorei o que tenho
de melhor
meu amor
por ela

Festa
eu tonto
ela comportada
nós dois nos respeitando;
cúmplices

Valeu sim
comemorei
minha saúde
meus amigos
minha família

Maio

De madrugada
daquelas madrugadas
serenadas de maio
época do sol
da manhã
ser solzinho tímido
gostoso de ficar quentando
tempo de chupar laranja
na palha de arroz

O sol devagarinho
vai bebendo o orvalho
do capim gordura
neste tempo arroxeado
pelas suas flores
dias límpidos
prenuncio se seca
no sertão

Mês de maio
é coisa linda
nos vilarejos
os velhos se colocam
nas calçadas e praças
sentados com cobertores
nas pernas
quentando este solzinho
gostoso e gratificante.