domingo, 17 de junho de 2012

Donzela

Papai tinha um bom gado. Um gado mestiço, meio caipira, mas bom. Vacas que enchiam um balde de oito, dez litros e algumas que até meiavam outro, na ordenha da manhã. Naquela época, as vacas tinham nome e não matriculas. Memória, capoeira, garota, mocinha, chatinha, barbela, moura, castipla... E era abrir o bezerreiro e chamar: Tulipa, tulipa... e lá vinha a cria da tulipa. Era, então, amarrar e ordenhar, cerca de cinquenta ou sessenta vacas que enchiam cerca de oito ou dez latões de cinquenta litros.

Nas férias estávamos lá. Na lida. Amarrando vacas e bezerros, ajudando Zé Tunico, Passarinho e Dorgino a ordenhar. Papai no controle. Ordenhando e enchendo os copos da criançada mais folgada.

E tinha a donzela. Uma vaca mestiça de zebu, preta, da barbela moura e brava como o coisa ruim.

Aconteceu de a donzela parir numa férias de julho, logo acima do curral. Pensa numa vaca recém parida brava, muito brava. Pois é, donzela era mais. E fomos, eu e papai, tocar vaca e cria para o rancho. Enquanto papai abria a porteira, fui eu, munido com uma vara de bambu, tocar  a vaquinha para o cercado. No que futuquei, o bezerrinho fez:

- Beeee!!!

E a belezinha partiu para cima de mim. Fiz o que urgia ser ser feito, vazei! Corri e deslizei por baixo da cerca de arame farpado, enquanto ouvia meu pai gritar:

- Ôh, seu merda! Num dá conta não?

Meu sangue ferveu. Mais rápido que rastejei fugindo, rastejei de volta, e rachei o bambu no cocuruto da merdinha, enquanto ouvia papai gritar:

- Ôh, seu merda, foge daí. Essa  vaca te mata...


***

Um comentário:

  1. Boa história!Confesso...dei boas risadas...acho que saudade é mesmo uma coisa assim de rir e de chorar! É o sal da idade,não Tarlei?

    ResponderExcluir