sábado, 29 de outubro de 2011

Amor Antigo

(Carlos Drumond de Andrade)



Foi sob a sombra deste eucalipto, logo acima do curral, na Fazenda dos Coelhos, em Paulo Freitas, que tudo começou. A poesia abaixo, de Carlos Drumond de Andrade, é uma homenagem aos nossos 35 anos de casamento.


Amor Antigo


O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mais pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

***

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