Calor. Muito calor. E então ebulição. E então convecção. Essa é a sedenta atmosfera natalina nas mitológicas Lavras, por serem muitas réplicas; ou Sarval, como diriam certos espíritos brincalhões - latitude 21° 14' 43 sul, longitude 44° 59' 59 oeste, e altitude de 919 metros; nossa própria Dublin, nossa própria Davos-Platz, nossa própria São Petersburgo; nossa própria Jerusalém... O mesmo sangue que se espalha e que se dissipa e que povoa a Terra; sangue de um mesmo povo que avança festivo pelas distantes bordas da nossa esteira leitosa. Como a voz sóbria, sábia e rigorosa em seu amor de nossos memoriosos patriarcas; humanos igualmente; que sempre confiaram na providência, e que sempre zelaram pelos seus, e que sempre rezaram; que outrora (num tempo que uno é sempre o mesmo e que cíclico é sempre presente – como as coisas que embora ainda não tenham sido, por virem a ser um dia inexoravelmente, já o são agora mesmo) diziam coisas sobre o mundo que então não sabíamos e que hoje servirão de bússola e de guia aos expatriados desse mundão-vasto--véio-e-sem-porteira-de-Nosso-Senhor. São lembranças e retratos esmaecidos espalhados pelas paredes e pelas porteiras decrépitas e pelos cochos em ruínas; são repetições do mesmo sentimento tomando o espaço dos armários, das sapateiras e das antigas penteadeiras, agora tomadas de mofo e de cupim. São lindas crianças saudáveis e lacrimosas que despertam a promessa da continuidade e da passagem leve e inexorável do tempo – seta que teimosa é sempre para frente e sempre constante e invariável. Ahá! Eis aí um bom paradoxo. Haverá, nesse ambiente de emoções múltiplas e intensas, tanto sonatas e melodias caipiras, algumas em ode a certos causos desajuizados e que podem facilmente servir de carapuça ao mais desavisado: “Cabeça que não tem juízo, o corpo paga...”; como riffs de Jimi e “Gimme back my bullets” e “Well I’ve been down so God damn low”; com os exaltados Buendías clamando “ahuuuuu texugão!” e outros impropérios a semelhança daqueles brados do dadivoso Rei Davi; com os passionais Tenenbaums marulhando em suas confusões inocentes e recorrentes, tudo em nome de sua idiossincrasia irreplicável de um Tio Vânia. Ora, famílias são incubadoras, são aceleradoras de partículas, de modo que haverá também tardes nas represas e nas quedas d’água das Minas Gerais. Haverá noites enluaradas e haverá noitadas regadas à folia e bom humor. Haverá falta e haverá excesso. Haverá prosas encantadoras e haverá belos conselhos, como haverá regateios infelizes e diz-que-me-disse e haverá de tudo e de todos os lados nessa bela multiplicação da espécie; posto que comparações são odiosas – como diriam Cervantes e Kerouac. E como são dois os ouvidos: escutai, oh filhos de seus Destinos! Escutai e dizei ao menos a metade do que escutas, na proporção dos Dons que lhe foram sugeridos. E dizei palavras boas para que boas sejam as colheitas e as promessas e tudo aquilo que te regressa no amor que pelo outro também nutre. Aleluia! Sarava! Salamaleico, irmãos. “Sois igualmente vazios; igualmente a serem amados; igualmente budas que estão por vir” – como prega a boa pérola zen. Amém!
Escreves bem, bem demais... Entrei no clima.
ResponderExcluirMinino, se tentar fugir, abraça...